O dia foi de Mark Cavendish e a ele se devem dirigir todas as referências elogiosas. Mas como esta crónica está impregnada de espírito crítico, a homenagem, justa e merecida, à vitória recorde do britânico, um dos melhores sprinters de todos os tempos, como o definiu o seu ex-diretor Patrick Lefevere, para quem os elogios são caríssimos, encerra-se neste primeiro parágrafo. Por que o tema ainda é Juan Ayuso (e por inerência João Almeida).

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O tema é a atitude de Juan Ayuso na etapa de terça-feira, a quarta do Tour, na subida do Col du Galibier, quando se tentou furtar ao trabalho de desgaste que fazia parte da estratégia da UAE Emirates para lançar o ataque do líder Tadej Pogacar.

O espanhol fez a maior parte da subida recuado no grupo em que se integravam os principais candidatos à classificação geral e na fase mais dura e seletiva (derradeiros 10 km) ainda se escondeu mais, ao ponto de não estar alinhado no comboio do revezamento da equipa. Nem sequer atrás de Pogacar, o líder, como é habitual se posicionarem os tenentes de montanha, para evitarem que os adversários o marquem na roda. Nem isso.

Ayuso estava tão bem escondido, que após Adam Yates (sabe-se agora) ter antecipado a sua passagem pela frente porque não estava com boas sensações, o que se confirmou pela escassa duração do seu revezamento, após João Almeida estar prestes a concluir o seu serviço deu pela falta do companheiro de equipa na sua roda, onde já deveria estar para o suceder.

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Por isso, o português gesticulou, olhando para trás para ‘descobrir’ o espanhol. E deverá ter-se queixado aos diretores desportivos pelo rádio, porque comunicou atrás do emissor. O próprio Pogacar, perante a situação, também olha para trás saber onde parava Ayuso.

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Este, em seguida, não poderia continuar a furtar-se ao trabalho e subiu no grupo assumindo a liderança, ainda que apenas no menor tempo indispensável… Almeida teve de voltar rapidamente à frente.

O resto da etapa não tem mais controvérsia. Ayuso e Almeida passaram no grupo perseguidor no alto do Galibier, mas o português perdeu contacto na descida, ficando com Mikel Landa, alguns segundos atrás.

No entanto, ficou bem patente que o espanhol não é corredor de equipa. Adam Yates é, João Almeida também. Juan Ayuso, definitivamente, não! Assim, a não ser que este mude (e cremos que só se forçado) o seu comportamento, revela-se desde já uma má opção dos responsáveis da formação para este Tour (a não ser que se contemple um plano B a Pogacar, o que não nos parece).

De resto, a atitude egoísta de Juan Ayuso não é surpresa. Logo na sua estreia na Vuelta, em 2022, desrespeitou claramente a hierarquia da equipa, em que João Almeida era líder único, ao impor-se ao português à primeira oportunidade, o que lhe permitiu ser o corredor mais bem classificado da equipa e assim justificar a proteção. Como resultado, recorde-se, a partir daí, Almeida passou a trabalhar para o espanhol. Ayuso fez pódio (3.º) e João (5.º, agora 4.º, após desclassificação de Miguel Angel Lopez).

E as palavras congregadoras de Matxin no final da etapa do Galibier não são mais do que uma desculpabilização do seu compatriota. Não se sabe se o serão no hotel foi esclarecedor sobre caso, mas Tadej Pogacar não deve ter ficado calado. Esperemos, para bem das suas pretensões à vitória neste Tour.


Créditos da imagem: UAE Team Emirates Twitter – https://x.com/TeamEmiratesUAE/status/1808208110319767725/photo/2

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