A Vuelta abriu-se a uma nova ordem: a da caça a Ben O’Connor. E poderá vir a ser uma tarefa complicada e de duração imprevisível. A etapa 6 deu-se isso, mas certamente poucos pensariam que escapasse ao controlo daqueles que não a queriam controlar…

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Expliquemos: a Red Bull queria passar a vermelha para não estar exposta aos maiores desgastes, mas as outras equipas com interesses na classificação geral (CG) também. E quais eram? Poucas? Duas ou três? Não, bem mais, porque nesta fase ainda inicial da corrida, com apenas uma etapa seletiva disputada, a do Pico Villuercas, os corredores da CG estão todos muito próximos. Pelo menos o top-10. Portanto, se a Red Bull de Roglic se acharia no direto de livrar-se da vermelha, uma série de adversárias também, incluindo a própria Decathlon, que tinha Felix Gall na sexta posição.

A questão que se deparou à equipa francesa e a nenhuma outra nesta etapa foi: tendo um corredor tão forte em fuga, tão-só um dos líderes, ganhar a vermelha com uma vantagem suficientemente grande para não cair na próxima chegada em alta montanha, seria de descartar?

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Mas quão grande poderia chegar essa vantagem? Com Ben O’Connor em dia de inspiração e num percurso difícil, desgastante para todos, incluindo equipas na perseguição, poderia ser substancial. Mas cinco a seis minutos foi uma oferta improvável, logo irrecusável. Entregar a La Roja dentro de um cofre e não ter a certeza do código. Abri-lo para tirá-la (do corpo) de um corredor como Ben O’Connor não deverá ser fácil.

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Mas não é impossível. A Roglic ou João Almeida, certamente! Mas vai implicar trabalho e esforço redobrado às respetivas equipas e aos próprios, claro. Ambos desnecessários.

Reforce-se: deixar (um corredor como) Ben O’Connor escapar e ganhar tamanha vantagem não é compreensível. Em condições normais… Mas no ciclismo, a fronteira para a anormalidade é ténue. Desde logo, se ninguém quiser pegar nos esforços da perseguição… Os interesses são comuns a várias equipas e seria pobre dizer que os únicos corredores/equipas com pretensões à vitória na Vuelta são Roglic/Red Bull e Almeida/UAE.

O australiano é corredor de topo, já o provou, principalmente quando corre sem macaquinhos no sotão. Nesta etapa estava liberto de pressão, deu tudo, e como tem muito, fez uma enorme diferença. Agora que está à frente, veremos, apesar da larga vantagem de tem para gerir, se mantém este nível evidenciado nesta etapa. E como recupera do esforço, claro, porque seguem-se etapas tão ou mais duras, até segunda-feira, primeiro dia de descanso…

A Ben O’Connor poderá bastar ‘manter o nível’ para arranjar um berbicacho aos rivais. E não se conte com debilidades da sua equipa. Nada disso. Além do líder (porque o era à partida) Felix Gall, excelente ciclista, tem Valentin Paret-Peinte, Bruno Armirail, Victor Lafay, Geoffrey Bouchard ou Clément Berthet que esteve na fuga nesta etapa.

Pro e contra para O’Connor: estar de saída da equipa Decathlon em 2025, a caminho da Jayco. Por um lado, o australiano poderá quer dar uma prova do seu valor chegando a uma grande vitória depois de tanto a procurar em quatro anos nesta equipa (AGR2), mas por outro a própria equipa poderá não ser tão solidária como ele necessitaria na árdua missão de defender esta liderança.


Créditos da imagem: decathlonag2rlamondiale twitter – https://x.com/decathlonAG2RLM/status/1826647890212913548/photo/1                      

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