Nos muitos momentos que servem de base às experiências que fazemos a cada bicicleta que nos é emprestada para teste, temos a oportunidade de andar com diferentes grupos de amigos, verdadeiros colegas de pedaladas. Sempre que aparecemos com modelos Trek com assistência elétrica, curiosamente, uma das perguntas é: mas essa bicicleta é elétrica? Aconteceu-nos isso quando andámos com a Trek E-Caliber, aconteceu-nos isso agora ao andarmos com esta Trek Fuel EXe 9.9 XX1 AXS 2023, a versão topo de gama da novíssima elétrica de trail da marca norte-americana.

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Na verdade, testámos esta bicicleta em exclusivo para Portugal e este é possivelmente o único teste feito originalmente por cá a esta Trek Fuel EXe. Por altura do lançamento desta e-BTT já nós a tínhamos connosco, gentilmente cedida pela Trek Portugal, e publicámos as nossas primeiras impressões sobre ela; agora, volvidas algumas semanas e percorridos muitos mais kms, temos já uma opinião mais robusta sobre uma bicicleta que, acima do resto, nos parece muito bem construída e desenhada.

Antes de avançarmos mais, deixamos uma nota especial para os dois vídeos que fizemos com esta Trek Fuel EXe (um está logo no início deste artito, o outro está abaixo), bem como para toda a sessão fotográfica, pois foram dos conteúdos multimédia que mais nos deram gosto captar, editar e apresentar. E relembramos que muitas das fotos no artigo de primeiras impressões são diferentes destas que vemos nesta página.

Trek Fuel EXe 9 9 XX1 AXS 2023 | Details | GoRide.pt

Agora, vamos à bike! E retomamos a conversa precisamente pelas perguntas que nos foram fazendo nos dias em que andámos com ela… Ressalvamos duas: que motor é esse, tão compacto e que mal se ouve? E qual o peso total da bicicleta?

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Respondemos a esta segunda questão desde já, porque numa e-BTT o peso é sempre um dos fatores determinantes. Nesta versão 9.9 XX1 AXS 2023, a Trek Fuel EXe pesa exatamente 19,2 kgs, e isto a contar com os pedais de plataforma que utilizámos todo o tempo. Tamanho L.

Atenção que esta é a versão topo de gama, que pode não ser acessível a todas as bolsas, pois custa 14.999 euros! Um valor alto, garantia de que encontramos na bicicleta o que de melhor se faz hoje em dia numa bicicleta elétrica de montanha e também ao nível de componentes tanto da Trek como das outras marcas presentes nesta montagem. Claro que existem versões mais acessíveis.

É a mais leve do segmento? Não. Precisa de sê-lo? Também não. 

O quadro é feito com o carbono OCLV Mountain da marca, o mais leve que conseguem apurar, e por falar nele aproveitamos para sublinhar alguns pontos que achamos importantes na geometria, nas linhas e na conceção desta peça.

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Assumidamente trail

Tal como a maior parte das e-BTT, esta Fuel EXe não é para XC e BTT convencional, é para trail. Talvez um pouco de enduro, sim. O quadro apresenta-nos uma geometria muito descontraída que inclina para esse tipo de utilização. A começar pelo ângulo do tubo de direção a 65 graus e a terminar no ângulo do tubo do selim, a 77 graus. 

Isto traduz-se numa posição típica das elétricas de BTT, que não cansa demasiado o corpo e que nos deixa sempre prontos para “atacarmos” trilhos técnicos, subidas difíceis. E para saltar, claro. Neste capítulo, também por causa da relativa leveza, a Trek Fuel EXe não desaponta. ‘Mexida’, também, com a ajuda de escoras de apenas 440 mm.

Um “pormenor” importante a referir: a geometria do quadro pode ser ligeiramente ajustada através daquilo a que a marca chama de Mino Link, uma espécie de parafuso (que se vê também parecido noutras marcas e modelos) que permite de certa forma ajustarmos a bicicleta ao que vamos fazer com ela nesse dia.

Ou seja, pelo que a Trek explica, podemos ajustar o ângulo do tubo dianteiro em 1 ou 2 graus e a altura do movimento central até 10 mm. Na prática, esta alteração é algo em que apenas os riders mais experientes irão notar diferença.

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Depende se somos mais ou menos “conservadores” no tipo de volta que vamos dar. Se a ideia é saltar e descer bastante depressa, uma posição mais descontraída é a escolha certa. A diferença não é avassaladora, contudo.

Mino Link ft. Cam McCaul

A novidade: o motor TQ HPR50

Agora, a resposta à outra pergunta, aquela relacionada com o motor. Isto porque este sistema é algo completamente novo. A Trek estabeleceu uma parceria com a fabricante de robótica alemã TQ para ajudar no desenvolvimento desta Fuel EXe e o principal resultado é o motor HPR50.

E o que mais se nota é o silêncio, passamos a contradição. Este sistema da TQ que é protagonista nos dois vídeos abaixo foi desenvolvido em parte a pensar na redução do ruído que é típico nas e-bikes, e consegue, efetivamente.

Em teoria, a marca afirma que o ruído gerado anda pelas 0.12 tu (unidades tonais); na prática, nos momentos da assistência ouve-se um silvo mais suave e discreto, é um facto. Em certas partes, com os ruídos provocados pelos trilhos e por outros componentes da bike, nem se nota o barulho do motor.

Trek Fuel EXe Acoustics. Less is More.

Este motor da TQ pesa 1,85 kg, sendo que o conjunto motor-transmissão-bateria tem 3,9 kg. Está acondicionado atrás do prato pedaleiro, podendo atingir um binário de 50 Nm e, com a transmissão harmonic pin ring, os momentos em que a assistência “arranca” são muito fluidos, como um complemento natural da força que sai dos pedais e das nossas pernas. Uma boa surpresa.

The TQ-HPR50 E-Bike System - the lightest, quietest and smallest system in its class | Trek Fuel EXe

Esta é uma transmissão de potência que a Trek apelida de “harmoniosa” e “com um funcionamento semelhante a um motor rotativo, mas mais refinado”. Em vez de engrenagens e correias, este sistema recorre a uma combinação mecânica e eletrónica diferente.

Pelo que explica a TQ, “no interior existem três peças de precisão concêntrica: um gerador de ondas elípticas, um estriado interno de flexão e um estriado circular que cooperam para que se possa pedalar sem impacto na dimensão e no peso”.

Nos trilhos, o que se nota é que temos na mesma três modos de assistência à pedalada, com um controlo eficaz no comando no lado esquerdo do guiador, e que não se trata de um motor hiper potente como encontramos noutros modelos.

É uma unidade mais “modesta” a empurrar montanha acima, mas que chega perfeitamente para um tipo de utilização assumidamente trail. O que se quer é uma “empurrão” para chegar ao topo da próxima descida, e isso é concretizado.

Bateria de 360 Wh

Quanto a autonomia, a marca fala de duas a cinco horas de uso com uma carga da bateria de 360 Wh (pesa 1.835 gramas). Podemos assegurar que a autonomia é um pouco menor que essa marca, mas que, com uma gestão cautelosa e usando os modos mais “fracos”, conseguimos ter motor por muito tempo.

Por outro lado, quisemos testar o sistema usando em contínuo o modo de assistência mais poderoso. Aí, não há muita autonomia, mas é mais do que suficiente para fazer umas boas descidas.

Os 100% de bateria, nesse modo mais potente, deram para uma boa sessão de 1h45, com cerca de oito descidas, muitos saltos e, pelo meio, qualquer coisa como 1.300 D+ de desnível acumulado. Mais do que suficiente para ficarmos bem cansados e satisfeitos com esta Trek Fuel EXe!

Em busca de mais autonomia, a Trek relembra que é vendido em separado um Range Extender, que, em teoria, eleva a fasquia em cerca de 44%, pois traz mais 160 Wh de capacidade. É instalado na grade de bidon. 

Em relação ao carregamento total da bateria, este é relativamente rápido: registámos um pouco menos de três horas para ir dos 0 aos 100%, mas a Trek fala de algo como duas horas. Dependerá das condições.

Já a seguir temos alguns destaques que merecem atenção nesta versão topo de gama da Trek Fuel EXe, mas antes fechamos esta parte do texto com outras três questões a ter com conta: o conjunto rodas/pneus, a transmissão e o lote de periféricos Bontrager escolhidos neste patamar de preço. Por partes.

Rodar com ‘força’

Gostámos bastante do que “sentimos” nestas rodas Bontrager Line Pro 30 . Não acrescentam demasiado peso ao conjunto, pelo contrário, não fossem feitas também com o carbono OCLV Mountain da Trek. E notam-se rígidas, resistentes, sem ruídos, fortes nas descidas e no enfrentar dos obstáculos e detritos libertados trilho abaixo…

Por outro lado, os pneus escorregaram-nos um pouco, literalmente. Algumas perdas de tração em pedra molhada e, nas zonas mais rochosas e “afiadas”, há a tendência para as laterais dos pneus sofrerem. Um pneu com um revestimento lateral mais grosso e robusto e fica resolvido o problema, apesar de trazer mais uns gramas ao que mostra a balança.

Na travagem, contudo, há eficácia e poder. Um sistema Shimano não desiludiria, especialmente se fosse o XTR, mas este conjunto Code RSC da Sram acompanha a transmissão e as rodas em bom nível, com os “obrigatórios” discos de 200 mm que vemos em quase todas as e-BTT.

Depois, as mudanças. Aqui, com o sistema Sram AXS eletrónico topo de gama, não há muito a dizer além de sublinhar mais uma vez a excelência no funcionamento deste sistema. Manípulo sensível na dose certa, aquele barulhinho da eletrónica em cada pressão com o polegar… Tudo sem fios, conjunto de 12 velocidades, neste caso com um desviador traseiro Sram XX1 Eagle AXS, cassete Eagle XG-1299 10-52t e corrente também XX1. Impecável e… caro.

Mais à frente, os cranques do pedaleiro são uns belos E*thirteen E*spec Race também em carbono, com comprimento de 165 mm e presença de um prato de 34 dentes, algo indicado para este tipo de bicicleta e muito útil para ganhar “balanço” nas descidas. Um prato 32t numa elétrica de trail não seria opção.

Em complemento, literalmente, eis que os periféricos Bontrager que a Trek coloca nestas versões topo de gama de cada linha estão cada vez melhores. E o que salta mais à vista é um já nosso “velho conhecido”: é o guiador Bontrager RSL, com avanço integrado (45 mm) e características que ajudam a definir a índole desta bike: 820 mm de largura, carbono, zero elevação. Resultado: controlo, confiança, diversão.

Aqui encontramos também um add-on muito importante numa bike de trail, que neste caso nem é Bontrager, mas sim RockShox. O espigão telescópico Reverb AXS, que se destaca por ser também sem fios, combinando com a transmissão e com a restante tecnologia dos sistemas AirWix e TireWiz. Com 480 mm de comprimento e medida 34,9 mm.

Alguns destaques:

Ecrã TQ LED com Bluetooth e ANT+

Tem 5 cm e está integrado no top tube, bem junto à direção. Vê-se bem o que lá está mesmo ao sol e com luz intensa, com um botão fácil de manusear a dar apoio e permitindo alternar entre os vários displays e menus.

Combina muito bem com o comando no guiador, este sem grandes surpresas face aos demais, e deixa-nos estabelecer relação rápida e facilmente com o smartphone (ou outros dispositivos, como um ciclocomputador, por exemplo), isto recorrendo à app Trek Central de que falamos já a seguir.

A app Trek Central

Para iOS ou Android, esta app móvel gratuita prima por servir para ajustarmos de certa forma o funcionamento dos três modos do motor. Mas faz um pouco mais, qual app de treinos e voltas: tem mapas para ajudar a planear as voltas, dá apoio na gestão e controlo dos níveis da bateria, mostra estatísticas e informações com a distância, as calorias queimadas, etc…

Não há grande inovação face ao que já se vê noutras marcas e modelos, nem é imprescindível para utilizarmos bem a bicicleta, mas dá alguma “cor” e um toque tecnológico a uma BTT elétrica já de si composta por muita tecnologia.

As suspensões!

Duas maravilhas, que nos deixam hiper confiantes nos trilhos. E que ajudam a tornar esta versão bastante cara, também. No amortecimento, já sabemos que a qualidade e a performance têm de ser pagas, não? À frente, uns belos 150 mm de curso na suspensão RockShox Lyrik Ultimate. Boas leituras do terreno e, quando afinada com primor, uma resposta perfeita.

Atrás, o amortecedor RockShox Super Deluxe Ultimate, que também dispensa apresentações, com muitas possibilidades de personalização e um desempenho ao nível dos melhores e adequado ao tipo de bicicleta, com 140 mm.

RockShox AirWiz e Quarq TireWiz

Outras duas maravilhas tecnológicas que a marca faz questão de montar nas topo de gama. O AirWiz, por exemplo, é algo fantástico associado tanto à suspensão frontal como ao amortecedor traseiro… Em vez de usarmos os comandos mecânicos presentes nestes componentes, podemos definir uma configuração tal e qual o nosso peso e estilo de condução.

Depois basta ir monitorizando para ver se todos os indicadores estão conforme. Não vale a pena andar com a bomba de suspensões para traás e para a frente, pois fica tudo muito bem definido com a ajuda da app Sram AXS (relembramos que a RockShox pertence à Sram, daí a integração).

Quanto ao TyreWiz, o processo é ainda mais simples. São uns sensores eletrónicos instalados nas válvulas tubeless de cada conjunto roda/pneu que monitorizam a pressão. Já a temos definida na app, também, pelo que só terá de haver lugar a uma verificação antes de cada volta: luz verde, tudo pronto; luz vermelha, toca a dar ar. Mais simples não há.

A nossa avaliação…

Ora, esteticamente a nova Trek Fuel EXe é uma bicicleta muito bonita e que chama a atenção de qualquer um. E quase nem damos por isso que se trata de uma elétrica dada as dimensões compactas do novo motor criado pela TQ. Quanto ao peso, tudo o que fica abaixo dos 20 kg numa e-BTT já reune a nossa aprovação!

Por falar em motor, repetimos: não há aqui potência desmedida e a “todo o gás” como noutras elétricas (até da própria Trek, como é o caso da fantástica Rail...), mas está lá a assistência que é precisa para as nossas aventuras trail.

Será este o futuro das elétricas de montanha? Muita tecnologia, potência equilibrada em busca de mais autonomia, peso e aspeto típico de uma bike convencional… Sim, e também outros fabricantes andam a trilhar este caminho, como bem sabemos.

Sem dúvida uma das elétricas de montanha mais entusiasmantes com que já andámos.

Assim, esta Trek é também muito estável em altas velocidades, ágil em curva e muito responsiva e divertidas nos saltos técnicos que conseguimos “sacar”. É silenciosa, entusiasma bastante em todos os momentos e tem uma base de excelência elevada, dando impressão de resistir a tudo.

Neste caso, apenas um reparo para a “sensibilidade” exagerada dos pneus Bontrager selecionados e talvez para os ruídos parasita que notámos vir de algumas partes do quadro, provavelmente cabos no interior que precisam de afinação/fixação.

Ficha técnica da Trek 2023:

Quadro: Carbono OCLV Mountain, com tubo do selim de 34,9 mm, apoio de fixação para guia de corrente superior e sistema Mino Link // Motor: TQ-HPR50, 300 watts, 50 Nm // Bateria: 360 Wh // Ecrã: TQ LED com Bluetooth e conectividade ANT+ // Suspensão frontal: RockShox Lyrik Ultimate, AirWiz, 150 mm // Amortecedor: RockShox Super Deluxe Ultimate, AirWiz, 140 mm // Transmissão: sistema eletrónico sem fios Sram Eagle AXS: 12x, desviador XX1 Eagle AXS, pedaleiro E*thirteen E*spec Race em carbono 34t, cassete Eagle XG-1299 10-52t, corrente XX1 Eagle // Travões: Sram Code RSC com discos 200 mm // Rodas: Bontrager Line Pro 30, Carbono OCLV Mountain // Pneus: Bontrager SE5 Team Issue, tubeless, 29 x 2.5″// Guiador: RSL Bontrager, carbono, avanço de 45 mm integrado, largura de 820 mm // Espigão: RockShox Reverb AXS, telescópico, 170 mm, sem fios, 34,9 mm, comprimento de 480 mm // Selim: Bontrager Arvada, carris em austenita, largura de 138 mm // Punhos: Bontrager XR Trail Elite // Peso: no tamanho L, 19,2 kg (verificado com pedais) // Preço: 14.999 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

Pormenores (clica/toca para aumentar)

Neste teste:

  • Texto: Rodrigo Vicente e Jorge D. Lopes
  • Fotos e vídeo: Rodrigo Vicente
  • Rider em ação: Rodrigo Vicente

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