Pedais montados. Altura do selim ajustada. Mochila às costas. Tudo a postos para 120 km de puro gravel, pelos caminhos de Fátima, tendo como destino o Jardim das Portas do Sol, em Santarém. Nesta primeira de muitas voltas que demos com esta Giant Revolt Advanced 2, não mexemos na configuração que vinha de origem na bicicleta.

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Mantivemos todos os espaçadores da coluna de direção por baixo do avanço/guiador, tendo assim uma posição de condução bastante alta, descontraída e com as costas direitas. Objetivo? Mais conforto, pois a volta era extensa e rolante.

Caso tivéssemos optado por levar alforges, até a forqueta conta com furação para fixação própria para esse efeito ou para instalação de malas de bikepacking. Para a hidratação, também há dois pontos de fixação no quadro, para dois bidões. E na parte de fora do downtube há lugar para um terceiro, caso seja necessário.

E continuamos a falar do quadro, pois parece-nos que esta gravel da Giant tem na estrutura de base o ponto mais importante. Estamos perante um quadro de carbono Advanced-Grade Composite que pesa menos 160 gramas que o quadro da geração anterior da Revolt, garante a marca.

Notamos que as escoras são mais finas e “descidas”, para tentarem absorver um pouco mais os impactos e vibrações vindos dos terrenos de terra batida.

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Na geometria, sem entrarmos em medidas e pormenores, temos a sensação de que a roda de trás está colocada literalmente debaixo do selim, o que nos dá uma boa tração, principalmente em subida. Há rigidez q.b. e isso traz uma grande eficiência na pedalada.

Além das fotos “espalhadas” ao longo deste artigo, espreita tanto o vídeo logo no início como o que está abaixo, que mostra um pouco melhor os detalhes do quadro e da bicicleta em geral…

Giant Revolt Advanced 2 2022 | Details | GoRide.pt

Flip chip dropout?

Ao examinarmos o quadro, encontramos aquilo que a Giant apelida de flip chip na zona do dropout. Temos encontrado este tipo de sistemas em bicicletas de suspensão total mais gravity, mas, neste caso, trata-se de um flip chip literalmente no dropout traseiro.

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Este é um ajuste que se pode fazer rápida e facilmente para ajustar a bicicleta à pedalada de cada rider, de certa forma. Tem duas posições possíveis e, estando no dropout traseiro, permite alterar a distância entre eixos da bicicleta. E não só: permite também alterar o clearance para o pneu traseiro.

Vejamos mais em pormenor: há efetivamente um sistema flip chip de cada lado do dropout traseiro, que pode ser definido para uma posição longa ou curta. É mesmo uma peça de “hardware” que pode ser removida e virada para uma configuração longa ou curta. Para isto usa-se uma chave sextavada de 5 mm.

Na posição curta, a distância entre eixos é menor (1.026 mm no tamanho M) e a folga para o pneu rodar é de até 42 mm; na posição longa, a distância entre eixos cresce 10 mm (1.036 mm no tamanho M) e obtemos espaço adicional para um pneu traseiro de diâmetro maior, de até 53 mm.

O que se nota de diferente?

Com a distância entre eixos mais curta, notamos uma condução mais rápida e ágil. Esta é uma ótima opção para terreno misto, que combina estradas pavimentadas com cascalho e terras suaves e rápidas. A sensação de resposta, combinada com pneus de menor diâmetro (e menos peso), torna esta configuração uma escolha inteligente quando a velocidade, a eficiência e o manuseio rápido são mais importantes.

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Na posição longa, a distância entre eixos maior adiciona estabilidade, a pensar no cascalho e nos terrenos mais “resistentes”. Com maior folga para o pneu traseiro (até 53 mm), podemos montar pneus de alto volume, para termos mais tração e controlo. Uma boa opção para passeios e rotas que podem incluir descidas rápidas e soltas, e subidas off-road complicadas.

Curiosamente, foi após o longo passeio pelos caminhos de Fátima que decidimos alterar o setup da bicicleta, pois as experiências iam de seguida passar a ser baseadas em voltas mais curtas, rápidas e com andamentos vigorosos em terrenos mistos.

Passámos os três espaçadores para a parte acima do avanço/guiador, mudámos o flip chip no dropout traseiro para a posição curta e passámos a andar com menos pressão nos pneus, isto além de alguns outros ajustes menores e menos determinantes na experiência de condução.

O controlo da Giant Revolt da bicicleta alterou-se e ficámos com uma “máquina” mais ágil e precisa, responsiva, com uma abordagem mais agressiva. “Devoradora de estradões”, mas sem nos deixar mal no asfalto e nas subidas curtas e rápidas, sempre em ritmos altos.

A bicicleta ‘dócil’, confortável e simpática para bikepacking de há dias transformou-se num verdadeiro ‘bicho’ de competição.

Ficámos verdadeiramente entusiasmados com a versatilidade desta Revolt, sendo que para as mudanças acontecerem basta fazer algumas afinações fáceis e rápidas, se estivermos “para aí virados”.

Monoprato não seria melhor?

Não sabemos ao certo… A transmissão montada nesta versão da Revolt é a Shimano GRX RX-810 de 11 velocidades, com cassete Shimano 105 11×34 e  pedaleiro com dois pratos, 32×48. A robustez e a eficiência a que o fabricante japonês já nos vem acostumando está bem presente neste conjunto.

Apesar de estarmos habituados a sistemas monoprato, a adaptação a este sistema 2x foi rápida. A subir, não temos diferenças relativamente a um sistema monoprato “tradicional”, digamos: 34 na cassete e 32 no pedaleiro será a relação mais leve para nos ajudar nas subidas, sendo que rampas de gravilha não muito solta até cerca de 15% não são problema.

É a rolar e a descer, nomeadamente em estrada, que temos ganhos “reais” com este sistema 2x: 11 na cassete e 48 no pedaleiro, muito próximo da relação de uma bicicleta de estrada, permite-nos rolar facilmente a mais de 60 km/hora.

Para maior versatilidade, nomeadamente com alforges de viagem, recomendamos uma cassete com uma maior amplitude, para ajudar naquela subida mais complicada que nos aparece quando menos esperamos…

Controlo ajustado

As rodas são in house: umas Giant P-X2 Disc, preparadas para tubeless e para receberem pneus de até 53 mm. Estão em linha com o que se espera de uma roda de alumínio: robusta, a rolar fácil, razoavelmente leve. Não deverão causar problemas aos adeptos do bikepacking com a montagem de alforges – e com o peso extra que isso acarreta.

Estão montados montados nestas rodas uns pneus também da marca, uns Giant CrossCut AT 1, 700x38c, tubeless.

Sinceramente, achamos que os pneus ficam um pouco aquém no que à componente off-road diz respeito, parecendo demasiado rijos. Não comprometem em asfalto, com comportamento rolador em bom nível.

Chegando a hora de travar, que é sempre importante numa gravel com estas características, o sistema é Shimano. São os Shimano BL-RX600 (as manetes) e RX400 (os discos).

Cumprem perfeitamente a sua função, parando a bicicleta com eficiência, com uma travagem sempre modular, capaz, mas sem ser brusca. Discos de 160 mm tanto à frente como à retaguarda. Notámos no nosso teste uma ligeira descoloração do disco traseiro sem que, no entanto, o mesmo tenha empenado.

Cockpit Giant

O guiador de 44 cm (no tamanho M) está acoplado à bicicleta através de um avanço de 8 graus e com 70 mm de comprimento, ambos de liga de alumínio e fornecidos pela própria Giant. No geral, este cockpit ajuda a que o conjunto funcione como um todo “suave”. A Giant afirma mesmo que a tecnologia D-Fuse empregue no guiador ajuda a absorver impactos e vibrações.

Necessitámos de algum tempo de adaptação a este componente, pois o formato não é muito convencional, apesar de cumprir de certa forma a função de absorção de irregularidades e dar algum conforto. Mas não impressiona…

Já o selim é um Giant Approach, nada pesado, confortável. Abertura prostética, ergonómico, com um look moderno, simples e que não fica atrás de outras ofertas mais caras. A uni-lo ao quadro está um espigão Giant D-Fuse, em carbono e com 14 mm de offset. O parafuso de aperto situa-se no top tube, engenhosamente escondido por uma pequena peça de plástico.

A nossa avaliação

A Giant Revolt Advanced 2 2022 é uma bicicleta que… primeiro estranha-se, depois entranha-se. À primeira vista, temos uma “dócil” “máquina” para bikepacking, com todas as furações para carga e bidões, com uma posição de condução alta, setup confortável…

Quase que não damos por passarem 120 km de caminhos e estradões. Mesmo com mochila, a viagem é confortável.

Alterado o setup, a bicicleta transforma-se e o ADN de competição salta à vista. Temos então uma devoradora de estradões e asfalto, sem compromissos. Quem procura uma máquina em que a versatilidade é a palavra de ordem, certamente deverá dar uma olhada a esta proposta da Giant.

Equipamento utilizado

Uma rápida nota para os itens e equipamentos que a Giant nos emprestou para os testes com esta Giant Revolt Advanced 2 2022, todos eles perfeitamente à altura do cumprimento da “missão” que é uma boa volta de gravel:

O que mais nos agrada…

  • A versatilidade da bicicleta, de uma forma geral, que pode mudar de “personalidade” consoante o que queremos fazer com ela. O sistema de flip chip ajuda-nos na tarefa.
  • A qualidade do quadro enquanto peça única, feita em bom carbono e com um aspeto moderno e “seco”.
  • O conjunto espigão/selim, adequado ao preço da bicicleta e aos tipos de utilização.

A melhorar…

  • O cockpit Giant D-Fuse pode não ser tão aerodinâmico como outras opções em bicicletas concorrentes e traz alguma dificuldade de adaptação.
  • Os pneus Giant CrossCut AT merecem um upgrade, algo que fica ao critério de cada utilizador, claro.

Especificações da Giant Revolt Advanced 2 2022:

  • Quadro: Advanced-Grade Composite, 12 x 142 mm, flip chip dropout
  • Manetes: Shimano GRX RX-600, 2×11
  • Desviadores: Shimano GRX RX-810
  • Pedaleiro: FSA Omega AGX, 32/48 (na versão que testámos estava instalado um conjunto Praxis)
  • Cassete: Shimano 105, 11-speed, 11×34
  • Travões: Shimano GRX RX-400
  • Manetes de travão: Shimano GRX RX-600
  • Rodas: Giant P-X2
  • Pneus: Giant CrossCut AT 1, 700x38c, tubeless
  • Selim: Giant Approach
  • Espigão: Giant D-Fuse
  • Guiador: Giant Contact XR D-Fuse
  • Avanço: Giant Contact
  • Peso: 8,11 kgs (indicado pela marca); 9,2 kgs (verificado por nós, com pedais)
  • Preço: 2.899 euros

Site oficial:

Todas as fotos (clica/toca para aumentar):

Pormenores (clica/toca para aumentar)

Neste teste:

  • Texto: Nuno Granadas e Jorge D. Lopes
  • Vídeos e fotos: Jorge D. Lopes
  • Rider nas imagens: Nuno Granadas

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