Quando no passado o nosso colega José Escotto, do GoRide em Espanha, experimentou durante várias semanas a KTM Scarp Master de uma geração anterior, a sensação que ficou é que este modelo de suspensão total é uma bicicleta que continua fiel a um XC mais da “velha guarda”. Menos curso nas suspensões, muita leveza e uma geometria propícia a rolar bem e a subir melhor.

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Como em equipa que ganha não se mexe, as várias centenas de kms que já levamos com esta bicicleta não enganam e mostram precisamente isso. E refira-se que a KTM Scarp Master pouco muda face a gerações anteriores, com o que isso traz de bom e menos bom.

Após várias semanas a andar com a bicicleta como veio de origem, confirmamos essas sensações, notando-se um equilíbrio que a torna muito válida na sua configuração de raíz, com quadro full carbon, suspensões de 95 e 100 mm, e transmissão/travagem Shimano XT.

‘Máquina’ de XC a rondar os 11 kg!

É “máquina”, é um facto, e a leveza é notória mesmo com as rodas de origem instaladas. Ronda os 11 kg já com pedais Shimano XT instalados (no tamanho de quadro M).

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Contudo, tendo acesso a uma outra versão (mas no tamanho L), pegámos em vários componentes e periféricos que tínhamos por perto para teste e procedemos a alguns upgrades, havendo agora forma de compararmos ambas as bicicletas. É o que fazemos neste artigo, de certa forma, sendo ele um teste de longa duração.

Esta é uma review de longa duração com uma KTM Scarp Master com alguns upgrades que já rolou seguramente mais de 3.000 kms!

Mais: sendo a bicicleta muito equilibrada e válida logo à saída da caixa, entre as várias alterações que fizemos há apenas uma que consideramos ser quase “obrigatória”. Falamos de trocar as já de si boas rodas DT Swiss em alumínio por umas (mais leves e rígidas) rodas em carbono. Os restantes itens são pura personalização a nosso gosto, pode dizer-se.

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Equilibrada na sua versão original…

Vamos olhar para eles mais à frente. Para já, olhemos para a KTM Scarp Master na sua configuração original. Tudo funciona bem para a prática de um XC bastante agradável ao fim de semana (quem sabe até competir…), mas também há um ou outro ponto que numa próxima geração precisa de ajuste. É por aí que começamos.

Mais concretamente pela direção. Sabemos que incluir nesta versão Master uma guiador em carbono iria encarecer a bicicleta, por isso nem “exigimos” isso. O que gostaríamos de ver numa geração próxima seria, isso sim, mais integração.

Ou seja, um sistema que relacione melhor o guiador (em alumínio) KTM Team Flat, na medida de 720 mm, e o avanço KTM Team MTB, também em alumínio, quem sabe até existindo outra forma de fazer entrar os cabos na caixa de direção e consequentemente no quadro.

Muitas são as marcas que já o fazem com sucesso, elegância e funcionalidade, por isso a KTM não sentirá certamente dificuldades em fazê-lo também. Sentimos essa necessidade, apesar de notarmos que este conjunto permite controlar bem a bicicleta.

Transmissão e travagem XT dá garantias

Ainda ficando pela frente da bicicleta, falemos do sistema de travagem… Um competente sistema Shimano XT M8100 (apenas dois pistões), que nos dá garantias e um bom doseamento da travagem.

O ponto forte está nos discos com alhetas de dissipação de calor Freeza e o ponto menos forte está também nos discos: encontramos unidades de 160 mm atrás e à frente, quando muitas concorrentes aplicam a medida de 180 mm na frente. Também preferimos dessa forma.

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Mas a maioria dos reparos na KTM Scarp Master é para o lado positivo, como seria de esperar. Em termos de desempenho, destaca-se a já referida leveza, que torna a bicicleta muito ágil a subir e expedita a rolar, com uma equilibrada transmissão Shimano XT com cassete 10-51t e prato 34t no pedaleiro.

Uma relação de 12 velocidades que conhecemos muito bem de outros modelos e marcas, também, mas que associada a este bem apurado quadro da KTM faz pequenas maravilhas nos trilhos.

Talhada para subir!

Mais uma vez reforçamos: esta bicicleta é fantástica a subir; é verdade que desce bem, certinha, mas não é “máquina” para grandes abusos a descer, até pelo curso de 100 mm na suspensão da frente e de 95 mm apenas no amorteciemento traseiro.

Sobe bem, especialmente em trilhos técnicos muito exigentes, com pedras soltas e todos aqueles obstáculos que podem surgir nos terrenos mais exigentes do XC. E rola também muito bem, confirmando a “fama” que as KTM de BTT têm de serem bastante rápidas em qualquer tipo de trilho ou estradão. Confirmado!

A geometria deste quadro Scarp full carbon encaixa muito bem no corpo de qualquer BTTista de estatura convencional, passamos a expressão, e é fácil sentirmo-nos “em casa” em cima da bicicleta ao longo de várias horas.

É importante referir que é a partir desta versão Master que as escoras e os tirantes superiores são também em carbono, pois antes disso na gama o triângulo traseiro é em alumínio, fazendo aumentar o peso.

Por sua vez, temos de falar do conjunto de suspensões Fox que equipam este modelo. Não porque sejam o pináculo das gamas que equipam normalmente as bicicletas de XC neste patamar de preço, mas sim porque continuam a surpreender pela boa relação entre performance, preço e peso.

À frente, a Fox 32 Float SC 29″ Factory, com o tal curso de 100 mm, é bastante disponível na maioria das situações, realçando que a sua vocação não é para as descidas mais “abusadas” ou para grandes saltos. Mas não se nega a nada!

Há bloqueio remoto no guiador, naturalmente, e o já conhecido sistema que ajusta o curso sensivelmente a 70% do limite, se desejarmos andar num ponto intermédio entre o sistema totalmente aberto e totalmente bloqueado. Útil, como sempre.

Mais atrás, o amortecimento SLL – Straight Line Link tem então os também já referidos 95 mm de curso, e também aqui esta opção nos parece suficiente para o que é previsto fazer com este tipo de bicicleta de XC. É o amortecedor Fox Float DPS Factory e o bloqueio no guiador também o “afeta”.

Rodas made by DT Swiss

Nesta Scarp Master que está de origem, por fim, abordemos as rodas e os pneus, até porque é por aqui que já a seguir começamos a falar dos upgrades que decidimos fazer à outra unidade da bicicleta. Mas não é certamente por notarmos que este conjunto não satisfaz a maioria dos utilizadores, pelo contrário.

É que as rodas que surgem de origem na bicicleta são as KTM Comp Trail que a DT Swiss produz para a marca austríaca, com aros em alumínio. Eixos e cubos também DT Swiss.

As rodas de origem não são demasiado pesadas, daí a relativa leveza da bicicleta, e resistem bastante a kms atrás de kms, a trilhos atrás de trilhos.

São perfeitas para as termos como rodas “de combate”, para treinos robustos e frequentes, podendo depois, ao fim de semana, mudar para um par mais leve e “performante”, em carbono. Não foram uma surpresa total, pois já as conhecíamos de estarem montadas noutros modelos desta e de outras marcas.

A combinar com isso, uns atrativos pneus Schwalbe com faixas laterais cremes, como é moda e fica bem. Uma unidade Racing Ray Evo SuperRace TLE 2.25 à frente, e um Racing Ralph Evo SuperRace TLE atrás, também 2.25, a nossa medida de eleição.

Há quem se “livre” cedo dos pneus Schwalbe devido ao risco de furos e rasgões, mas a verdade é que não notámos nada de problemático nos pneus até ao final da sua vida útil. Foi nesse momento que trocámos para uns Pirelli Scorpion XC, e é por aí que começamos a “conversa” em torno do que optámos por substituir na versão “kitada” da Scarp Master com que também temos andado…

Alterações que reduzem o peso…

Como já referimos, decidimos fazer algumas alterações apenas porque gostamos de ir personalizando as bicicletas com que rolamos durante mais tempo. Por isso, além dos pneus e das rodas (falemos deles já a seguir), montámos componentes alternativos ao nível do guiador, espigão e selim, tudo à base de carbono, e também colocámos discos de travão da Galfer, com a particularidade de adaptarmos a roda da frente para um disco de 180 mm.

Mas o upgrade mais valioso que fizemos à KTM Scarp foi talvez substituir as rodas de origem por umas belas e afinadas Prototype Carbon SL, as rodas para BTT em carbono mais recentes que a marca portuguesa colocou à venda. E que rodas! São um modelo de 1.590 euros, pelo que seria de esperar um bom desempenho, certo? Confirmado!

Só com a mudança para estas rodas é possível retirar quase 500 gramas à bicicleta, pois as Carbon SL pesam 1.240 gramas o par. A juntar a isso (e ao bom aspeto que apresentam em todas as versões), nota-se bem o “despacho” das rodas, que acabam por complementar muito bem o perfil refinado da KTM Scarp Master para subir nas partes mais técnicas do terreno.

A rolar, a mesma coisa: bom andamento, boa capacidade para absorver algumas vibrações ligeiras que vêm do piso, e um surpreendente “à-vontade” dos novos cubos EVO 4 SP, feitos com alumínio aeroespacial maquinado em CNCs.

Com 29 mm de largura interna, as Carbon SL são tubeless ready, com aros assimétricos do tipo hookless e concebidas para acolherem pneus de 2.1” a 2.5”, entre outras características.

Montámos os já mencionados Pirelli Scorpion XC de 2.25” e 2.35” e, com a ajuda das rodas em carbono, a bicicleta ficou mais leve (ainda), mais rápida, melhor a curvar, mais preparada para o XC veloz.

Diga-se, contudo, que ao nível dos pneus as diferenças de desempenho não são consideráveis. Notamos bons índices de tração e andamento tanto com o Pirelli Scorpion XC depois do upgrade como com os Schwalbe Racing Ray e Racing Ralph que vêm de fábrica na bicicleta.

Que mais mudámos para tornar a bicicleta um pouco mais leve e mais personalizada à nossa imagem? Montámos um conjunto de periféricos em carbono da Gelu. A começar pelo espigão de selim, o Gelu 400 mm Seatpost de 30,9 mm, que custa 345 euros e “é o primeiro e único do mundo em forma de polígono de 24 lados”, diz a marca. Pesa 120 gramas, aproximadamente.

Mais acima, colocámos um selim com que já estamos habituados a andar há muito tempo: o Gelu A-1, um selim com uma espessura surpreendente e um perfil bastante diferente do que é normal. A maior surpresa? Pesa apenas 60 gramas!

Também em carbono, e aqui um upgrade muito competente, o guiador Gelu Handlebar 20 Gon Concept XC, que custa 239 euros. Também apresenta a construção/forma baseada em polígonos da marca, com 20 faces perfeitamente simétricas. Interessante.

E o peso não vai além dos 130 gramas. Decidimos manter a medida de 720 mm para mantermos também a génese de XC mais old school da KTM Scarp Master de 2024, algo que nos agrada.

Assim, apesar de esta ser uma bicicleta que se apresenta muito equilibrada logo à saída da caixa, com substituições ao nível de rodas, pneus, guiador, espigão e selim, foi possível baixar o peso desta Scarp Master no tamanho L de uns agradáveis 11 kg para uns ainda mais interessantes 9,9 kgs!

A nossa avaliação

Em suma, a KTM Scarp Master de 2024 é uma bicicleta que dá aquilo que promete na etiqueta do preço, tanto pela lista de material instalado como pela performance.

Refira-se que esta não é aquela bicicleta que rola e sobe bem para depois descer “a fundo” e a “abusar” um pouco, a puxar ao downcountry. Para isso há outros modelos de outras marcas ou as versões MT desta mesma bicicleta… Esta é sim uma BTT mais old school, que rola e sobe muito bem para depois descer “certinha” e sem exageros.

É perfeitamente normal que a queiras utilizar sem qualquer upgrade, pois há equilíbrio para isso a vários níveis, sempre “piscando o olho” a umas boas rodas em carbono, pois esta KTM merece esse add-on.

Mas, como a nossa bicicleta é sempre a base a partir da qual partimos em busca de personalização e melhoria, também é perfeitamente normal que possas seguir o caminho que seguimos na versão “kitada” que surge neste artigo, adicionando rodas, disco de 180 mm à frente e vários itens em carbono.

Seja como for, e em jeito de conclusão: se o menu do dia forem subidas atrás de subidas, esta KTM não se queixa, repete a dose e ainda pede mais para o lanche!


Ficha técnica da KTM Scarp Master 2024:

Quadro: Scarp 29″ Premium Full Carbon com amortecimento SLL – Straight Line Link de 95 mm / Suspensão frontal: Fox 32 Float SC 29″ Factory, curso 100 mm, bloqueio remoto no guiador / Amortecedor: Fox Float DPS Factory, 95 mm, bloqueio remoto no guiador / Guiador: KTM Team Flat, posição reversível 2x, 720 mm / Avanço: KTM Team MTB, ângulo 7° / Espigão: KTM Team, 30.9 x 400 mm/ Selim: Selle San Marco Shortfit Open Fit Wide / Travões: Shimano XT M8100 com discos Shimano MT800 CenterLock 160 mm (com alhetas de dissipação de calor Freeza) / Rodas: KTM Comp Trail 29 Made by DT Swiss, aro em alumínio / Pneus: Schwalbe Racing Ray Evo SuperRace TLE – Tubeless Easy 29×2.25 (frente) e Schwalbe Racing Ralph Evo SuperRace TLE – Tubeless Easy 29×2.25 (atrás) / Transmissão: Shimano XT (desviador Shimano Deore XT M8100-12 SGS shadow+, pedaleiro Shimano Deore XT M8120 com prato de 34t, manípulos Shimano Deore XT M8100-12, cassete Shimano Deore XT M8100-12 10-51t) / Peso: 10,9 kg / Preço: 4.825 euros

Mais info:


Reportagem fotográfica (álbuns no Flickr):
1 Galeria – KTM Scarp Master (origem)
2 Galeria – KTM Scarp Master (origem) – Detalhes
3 Galeria – KTM Scarp Master (com upgrades)
4 Galeria – KTM Scarp Master (com upgrades) – Detalhes

 

Neste teste:

  • Texto e teste: Nuno Margaça e Jorge D. Lopes
  • Riders nas imagens: Nuno Margaça e Nuno Granadas
  • Fotos e vídeo: Jorge D. Lopes

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