José Azevedo não promete revolucionar o ciclismo português, não promete vitórias, mas repete várias vezes aquilo que quer na Efapel Cycling: profissionalismo, dedicação, dignificar os patrocinadores e lutar sempre (mas mesmo sempre) pelo melhor resultado possível (naturalmente com olhos postos no primeiro lugar), e assim contribuir para a evolução dos seus atletas e da própria estrutura.

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Para esta evolução ter sucesso, Azevedo recusa centrar objetivos apenas numa altura do ano, querendo que os seus atletas tenham uma mentalidade vencedora toda a temporada, naturalmente com picos de forma pré-determinados.

José Azevedo

Ou seja, não se fique à espera de ver uma Efapel Cycling a pensar em demasia na Volta a Portugal. Se é óbvio que é a prova mais importante, alcançar bons resultados antes e depois, cá ou lá fora, é também muito importante para o projeto.

“Nós somos uma equipa profissional e o que eu digo aos meus ciclistas é que temos de ser profissionais o ano todo. Existem pessoas que investiram neste projeto, existe um patrocinador que acreditou nesta equipa, neste projeto que lhe apresentei e nós temos de ser desde o início competitivos”, explicou ao GoRide.pt.

“Independentemente da categoria e das possibilidades de êxitos ou de vitórias serem maiores ou menores, dependendo das outras equipas e da qualidade do pelotão, a nossa mentalidade tem de ser sempre a mesma: dar o máximo, correr para alcançar sempre o melhor lugar possível e dignificar o nosso patrocinador. Essa vai ser a nossa mentalidade desde a primeira prova”.

A Volta a Portugal é a principal corrida que temos no nosso calendário, mas não podemos estar à espera de agosto para rentabilizar o investimento.

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“Consciente das possibilidades, consciente do valor das equipas que vêm a Portugal, mas a nossa mentalidade é essa: vamos correr para tentar obter o melhor resultado possível. Por outro lado, acho que só assim os índices físicos dos nossos atletas podem melhorar e podem subir. Essa é a minha forma de estar no ciclismo, a minha maneira de entender o ciclismo e essa mensagem tem sido passada para o grupo”.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

“Fazemos a prova de abertura, fazemos o Algarve, na semana seguinte vamos para o Gran Camiño, que é uma prova internacional em Espanha também com muitas equipas do World Tour e ProTeams. A nossa ambição é sempre a mesma: lutar pelo melhor resultado possível”, afirmou com veemência.

Portanto, a expectativa é ver a Efapel Cycling à procura de vitórias já a partir de domingo, na Prova de Abertura Região de Aveiro e logo de seguida na Algarvia: “Logicamente que a Volta a Portugal é o nosso maior objetivo. Isso não irei negar. É a Volta a Portugal, é a principal corrida que temos no nosso calendário, mas não podemos estar à espera de agosto para rentabilizar o investimento. O investimento não só financeiro, de quem apoiou, mas também o investimento daquele que é o atleta em si”.

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Competir para aumentar índices físicos

Esta mentalidade que José Azevedo quer ver nos seus ciclistas tem uma justificação, pois acredita que é competindo sempre com o objetivo de obter bons resultados que o atleta poderá melhorar os seus índices físicos.

“Nós vemos um [Tadej] Pogacar e um [Primoz] Roglic ganharem corridas World Tour [em fevereiro e março] e depois estão na Volta a França, que são 21 dias, e estão ganhá-la. E a Volta a Portugal são apenas 11, com um dia de intervalo pelo meio. Ou seja, na minha forma de ver, tem de haver uma programação da época com a Volta a Portugal – e para nós é inegável – como principal objetivo, mas não iremos estar seis meses à espera da Volta com medo de nos desgastar. Acho que isso vai contra aquilo que é a lógica da fisiologia e do esforço daquilo que é a progressão de um atleta”, explicou.

No ciclismo internacional, os bons atletas estão o ano todo a disputar corridas e isto é o que é normal.

“Ou seja, no ciclismo internacional, os bons atletas estão o ano todo a disputar corridas e isto é o que é normal. Às vezes há coisas que eu considero anormais. Para mim o normal é isso. O ano é muito longo, há muitos períodos para fazer picos de forma, há objetivos que queremos apontar e o ano ser longo dá para recuperar entre provas”, acrescentou.

Os ciclistas eleitos

Fábio Fernandes (19 anos), Francisco Campos (24), Francisco Guerreiro (21), Gaspar Gonçalves (26), Henrique Casimiro (35), João Benta (35), Joaquim Silva (29), Pedro Andrade (21), Rafael Silva (31) e Tiago Antunes (24).

São estes os dez eleitos para arrancar com o ambicioso projeto de José Azevedo. O responsável realçou o misto de experiência e juventude: “Estou satisfeito com o grupo que tenho. Estou bastante confiante na qualidade e no valor e, essencialmente, o que eu noto é que desde o primeiro dia sentia-se que havia um bom espírito de grupo e, logicamente, isso foi-se fomentando com o convívio, com os estágios, com o tempo que passam juntos. Noto que todos captaram a filosofia desde projeto, todos entenderam a forma de tabalhar desta equipa e existe uma motivação muito grande e é um espírito de grupo forte”.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

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Casimiro, Benta e Joaquim Silva serão os líderes, mas Azevedo olha para os jovens com esperança de os ver crescer a obter resultados de nota. Contou como Pedro Andrade pediu para sair da Hagens Berman Axeon – que tantos jovens tem colocado no World Tour -, apesar de ter mais um ano de contrato, por acreditar no projeto da Efapel Cycling.

Admitiu também que vê em Francisco Campos um talentoso sprinter e, por isso, o escolheu, tendo ainda grande esperança em Tiago Antunes e Francisco Guerreiro, este último a fazer a estreia numa equipa profissional.

Se eles optarem por sair, eu ficarei contente. É sinal que estamos a fazer algo positivo.

O diretor quer ver os jovens da equipa um dia assumirem papéis de liderança, mas claro que também quis atletas experientes, que tenham desde já essa responsabilidade. Independentemente da idade, certo é que todos estão a assimilar o que Azevedo quer da equipa e estão ansiosos para começar a mostrarem-se.

Porém, quando se aposta na formação, também se tem de estar preparado para os ver procurar outros voos. Isto é, se os ciclistas alcançarem um bom nível, poderá ser difícil segurá-los na equipa.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

“Se eu os conseguir ter no mesmo projeto, mesmo continuando no escalão Continental, fico satisfeito. Mas se eu os vir crescer, evoluir, ter resultados de destaque, logicamente que isso vai despertar interesses de equipas internacionais. Se eles optarem por sair, eu ficarei contente. É sinal que estamos a fazer algo positivo. É sinal que esta equipa está a ajudar o ciclismo português a evoluir. E é sinal de que, se eles saíram, é porque obtiveram resultados e deram resultados à equipa. Ou seja, fico contente com essa situação”, disse.

Entre os mais experientes, João Benta e Henrique Casimiro fazem da regularidade uma arma, mas Joaquim Silva foi um ciclista que teve algumas temporadas abaixo do esperado, renascendo em 2021 na Tavfer-Measindot-Mortágua, com destaque para a vitória no Grande Prémio Jornal de Notícias. Uma vitória que, para Azevedo, confirma o valor desde ciclista, ainda jovem e que é escolha para ser um dos principais rostos da Efapel Cycling.

Ombrear com os melhores

A W52-FC Porto tem sido a força dominadora no ciclismo português praticamente na última década com a agora Glassdrive/Q8/Anicolor a ser a outra estrutura mais forte do pelotão. José Azevedo confia plenamente no grupo que escolheu, mas mantém um olhar muito realista do que lhe espera quando começar a temporada.

“Quando olhamos ao papel, possivelmente não tenho nenhum candidato, daqueles nomes favoritos a vencer a Volta a Portugal. Essa é a realidade. Esses corredores estão centrados nessas duas estruturas. Mas eu acredito nos meus atletas e o que eu posso dizer é que temos vindo a trabalhar de uma forma muito séria, com muito empenho, com seriedade, profissionalismo e dedicação. Isso é que faz os nossos corredores evoluir”.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

“Quando chegar à Volta, o que eu espero é que o grupo se apresente no máximo das suas capacidades, que os selecionados estejam a 100% e quando a corrida começar, nós vamos lutar pelo melhor resultado possível. Eu sou o primeiro a reconhecer que se fomos colocar nomes no papel, os favoritos, esses nomes estão nessas duas equipas”, admitiu.

Orgulho por ajudar ciclistas a chegarem ao topo

Como diretor desportivo ou responsável por uma equipa, José Azevedo conviveu com alguns dos melhores ciclistas do mundo. A título de exemplo, os irmãos Schleck, Fabian Cancellara e Joaquim Rodríguez. Porém, sempre quis ter nas suas equipas jovens ciclistas e ajudá-los a evoluir.

Vê-los tornarem-se estrelas da modalidade é um motivo de orgulho e é precisamente esse sentimento que o motiva agora que se concentra num projeto nacional, para já de nível Continental.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

“Neste caso, independentemente de estar no escalão Continental ou World Tour, o objetivo é o mesmo: acreditar nestes jovens, sentir que eles têm valor, têm potencial e trabalharmos de uma forma muito séria, muito profissional, sempre buscando essa progressão, essa evolução. Onde eles vão chegar, o tempo o dirá. Mas logicamente que estes jovens, para mim neste momento, a contratação é esperando essa evolução deles para que eles no futuro venham a ser eles os líderes nesta equipa”.

Se saírem… muito bem, mas Azevedo confessou: “Não tenho muita vontade, muito honestamente, de a cada ano mudar os dez corredores”.

Uma das grandes contratações

Não foi só nos ciclistas que Azevedo se centrou em contratar bons profissionais. Uma das grandes contratações foi Hélder Miranda. É uma das pessoas com melhor conhecimento de ciclismo em Portugal e em 2021 esteve por trás do sucesso da Tavfer-Measindot-Mortágua.

José Azevedo e Hélder Miranda.

Todas as imagens © João Fonseca Photographer

José Azevedo assumiu que Hélder Miranda foi a sua primeira escolha e justifica simplesmente assim: “O Hélder compreende quando eu falo de ciclismo”.

A relação com os ciclistas

José Azevedo diz que é mais um do grupo, mas que cada um tem a sua responsabilidade. Para o diretor, há uma palavra chave na relação com os ciclistas: confiança.

“Independentemente de eu ser o diretor, o responsável por esta equipa, de poder também fazer provas como diretor desportivo, mas o que eles têm de sentir é a confiança. Que aquilo que eu lhes digo é sempre no intuito de os ajudar e que aja uma abertura da parte deles também para expor o seu pensamento”.

“Só partilhando ideias e sensações é que eu também os posso ajudar. Tem que haver essa flexibilidade da minha parte, compreender o ciclista. A decisão final caberá sempre a mim ou ao Hélder Miranda, o outro diretor desportivo que terá responsabilidade máxima nas decisões e os ciclistas terão de respeitar sempre as decisões tomadas quer por mim, quer pelo Hélder”.

“Mas existe uma boa relação e tem que haver uma abertura muito grande, uma confiança e um respeito mútuo”, referiu.

O lado português acima de tudo

O plantel da equipa é 100% português, mas não significa que assim continue no futuro. Para já, é com ciclistas lusos, rodeados de muitas marcas do país (Catlike, Polisport, DiGarda, por exemplo) que Azevedo quer ver a Efapel Cycling crescer.

“Sempre disse às marcas portuguesas, para que em conjunto com este projeto cresçam connosco. Porque é esse desenvolvimento que podemos dar às marcas, esse feedback de utilização dos produtos para que eles evoluam os próprios produtos, fazer com que esses produtos possam ajudar a afirmar-se no contexto internacional e nós possamos usufruir de um produto de ainda maior qualidade. E é um pouco esse conceito desta equipa”, explicou.

E os comentários no Eurosport?

Já nos habituámos a ouvir José Azevedo comentar algumas das corridas mais importantes no Eurosport. O seu conhecimento e as suas histórias cativaram muitos e podem ficar descansados. É que apesar de estar de corpo e alma na Efapel Cycling e de ter a ambição de ver este projeto crescer muito, vamos continuar a ouvi-lo no canal de desporto, ainda que, claro, quando não estiver nas competições com a sua equipa.


A 1ª parte desta entrevista está aqui:

José Azevedo: ‘Esta equipa foi uma ambição, um desejo pessoal’ [parte I]


Todas as imagens © João Fonseca Photographer


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