A Specialized tem uma gama de sapatos de estrada abrangente e com alguns dos produtos de referência no mercado, mas, do mesmo modo que o aperfeiçoamento é indispensável, também a diversificação da oferta nunca é demais, tanto para fabricantes e consumidores. Com essa pretensão, o fabricante norte-americano reforçou o portefólio S-Works com os Specialized S-Works Ares, uns sapatos de estrada topo de gama alinhados com os prestigiados S-Works 7 e que numa primeira apreciação, sustentada pelo marketing da marca, destinam-se à competição e privilegiam o poder de explosão determinante para vencer uma corrida ao sprint.

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A Specialized diz que os Ares são até 1% mais rápidos do que quaisquer outros sapatos de estrada que já produziu e não falta à verdade quando refere que essa percentagem ínfima pode fazer a diferença entre a vitória e a derrota. Todavia, serão os Ares exclusivos velocistas e sprinters, privilegiando estes momentos e desde logo restringindo-se a uma fatia muito fina de utilizadores? Após este teste intensivo, baseado em mais de 2.000 km, concluímos que não. O que é bom.

Neste início de temporada de competições do WorldTour, os principais corredores da equipa Deceuninck-Quick Step, do poderoso sprinter Sam Bennett ao leve e explosivo Julian Alaphilippe, passando pelo nosso “completo” João Almeida, todos a disporem de equipamentos e bicicletas fornecidos pela Specialized, não escolheram outros sapatos da gama S-Works que não fossem os Ares. E isso diz tudo sobre a performance ao mais alto nível destes sapatos, não?

Os Ares devem a aparência menos racing ao material têxtil (Dyneema) que sobressai dos rebordos do sapato, que remete para as modernas botas de futebol.

Os Ares têm uma imagem menos elegante e mais robusta do que a maioria dos seus congéneres de competição, por exemplo os S-Works 7, cujo design de ergonomia simples e afilada, a inspirar leveza e alta performance, remete automaticamente para o WorldTour.

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Specialized S-Works Ares: inspiração no futebol?

Os Ares devem a aparência menos racing ao material têxtil (Dyneema) que sobressai dos rebordos do sapato, que remete para as modernas botas de futebol. A adoção desta espécie de meia de cano curtíssimo, que apenas aconchega o pé na zona ao redor do tornozelo-tendão de Aquiles e um pouco mais acima da pala, contribui para a ótima sustentação do pé e é uma das mais-valias destes novos Specialized.

O cruzamento inovador das ‘línguas’ na parte superior do sapato permite envolver otimamente o pé, assegurando uma distribuição do aperto, a roçar a perfeição.

Outra vantagem é a arquitetura de aperto que, ao triangular a retenção no peito do pé e dispersando a pressão sobre uma área de superfície maior, reduz sobremaneira o movimento daquele no interior do sapato.

O cruzamento inovador das línguas na parte superior do sapato permite envolver otimamente todo o pé, assegurando ainda uma distribuição do aperto a roçar a perfeição, com a bênção do consagrado sistema de fios e de botões rotativos BOA, que também foi aperfeiçoado para os Ares.

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Deste modo, sem dúvida, confirma-se que a transferência de força durante as acelerações bruscas é maximizada, mas também a pedalada redonda é beneficiada.

Os Ares não são só perfeitamente ‘apertados’ para minimizar perdas de energia na fricção entre o a meia e o sapato, como também são muitíssimo confortáveis.

Estes não são os sapatos de competição mais leves do mercado (pesam, por unidade, 267 gramas – comprovados neste teste, em tamanho 43), mas também não constituem lastro relevante que possa excluí-los de saídas/provas de montanha.

Cremos que nenhum produto topo de gama como este modelo da Specialized pode permitir-se a esse constrangimento. Os Ares têm, de facto, uma performance exemplar em subida, onde fazem sobressair as supracitadas mais-valias, otimizando ainda a capacidade de aceleração pela sua arquitetura específica.

Os Ares não são só perfeitamente ‘apertados’, para minimizar perdas de energia na fricção entre o pé (ou melhor, a meia) e o sapato, como, ao garantirem essa pressão uniforme e homogénea, revelam-se também muitíssimo confortáveis.

Isto acontece desde o primeiro ao último quilómetro de um treino, e fizemo-los com mais de 150 km sem queixumes. Para tal, contribui a construção com reforço do calcanhar em plástico rígido – que por não ser novidade na Specialized elogia-se como qualidade preservada -, a já referida meia “língua” em tecido denso Dyneema e a mesma sola de carbono extra rígida dos comprovados S-Works 7 (com um índice de rigidez de 15.0).

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Acrescentando a isso o revestimento interior ligeiramente acolchoado, temos aqui um sapato que se sente quase como uma luva.

Disponíveis em tamanhos intermédios de 38 a 47 e tamanhos fixos de 36 a 38 e de 47 a 49, nas cores Black, Red, Team White e White, ao preço de 419,90 euros.

Ao calçar os sapatos, nas primeiras 20 ou 30 vezes, pode ser difícil enfiarmos os pés, especialmente comparando com a relativa facilidade de outros sapatos topo de gama, incluindo os S-Works 7.

O mesmo acontece ao descalçá-los. Mas este é um incómodo que se desvanece com a utilização e ao fim de algumas sessões de pedalada. Ao invés, o que perdura após mais de dois milhares de quilómetros – e comprovámo-lo –, é a perceção desde que os estreamos de que são duráveis e resistentes ao desgaste de uma utilização intensiva, sem necessidade de os resguardarmos em dias de muita chuva.

Ficamos com a mesma convicção sobre o desempenho dos Ares e das suas principais características e mais-valias que referenciámos: as qualidades do sistema de aperto, a “língua” de tecido de sustentação, o material aconchegante do interior e a rigidez estrutural.

Por comprovar ficou uma característica igualmente fundamental de sapatos de ciclismo, e ainda mais em climas cada vez menos temperados como o português: como se comportarão em termos de frescura e conforto após algumas horas em dias muito quentes de verão?

A nossa avaliação

Os Specialized S-Works Ares são um complemento de gama, um reforço de oferta da marca californiana para ciclismo de estrada, para ciclistas e corredores (os que competem em provas oficiais) que procuram um calçado que garanta a mesma eficácia na transferência de força dos mais rígidos, mas melhor conforto do que a maioria destes.

Não são necessariamente vocacionados para sprinters, fazem quase tudo bem, a rolar, a subir e a descer. Para ciclistas que não dispensam o melhor vestuário, o conforto e desempenho do calçado não podem ser depreciados; e para corredores, que têm nestes Ares armas eficazes em termos de transmissão de potência em forte aceleração, mas também na pedalada redonda.

As principais qualidades dos Ares são o ótimo sistema de fecho/aperto, com uma arquitetura talentosa das linguetas, na maneira como se cruzam no peito do pé até junto à biqueira, a sobreposição que assegura o correto envolvimento do pé, bastante homogéneo, e a harmonia com o sistema de fios e fechos rotativos Boa, assim prevenindo pressões localizadas que causam dor, dormência e “formigueiro”.

 

Pontos mais positivos:

  • Fecho/aperto com uma distribuição muitíssimo homogénea.
  • Sustentação ótima do pé e redução das perdas de energia por fricção interna.
  • Rigidez estrutural, e não apenas da excelente sola em carbono.
  • Conforto da pedalada em longas distâncias.
  • Peso contido para um sapato tão eclético.

 Pontos a melhorar:

  • Alguma dificuldade ao calçar quando ainda estão novos. Depois passa.
  • Preço ligeiramente elevado.
  • Estética não consensual.
  • Alguma dificuldade na limpeza.

Site oficial:

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