Um último tira-teimas na Volta a Espanha antes das consagrações em Madrid. Mas um valente tira-teimas! Hoje o pelotão enfrenta uma das etapas mais aguardadas da presente edição da Vuelta, um constante sobe e desce através da Serra de Guadarrama, a oeste da capital do país, cuja exigência e imprevisibilidade levam corredores e diretores desportivos a considerarem de forma unânime capazes de dar a volta à geral. Mas será assim para a Jumbo-Visma…?

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Sepp Kuss está à distância de 202 km e 4.200 metros de desnível positivo acumulado em nada menos do que dez subidas de 3.ª categoria (pouco conhecidas…) da concretização do sonho de vencer uma grande volta, algo que certamente o simpático e honesto norte-americano nem nas noites em que os teve mais cor-de-rosa terá vislumbrado.

De resto, se por qualquer condicionalismo da corrida, o habitual tenente de montanha da Jumbo-Visma tiver um dia mau, certamente os seus dois líderes originais, Jonas Vingegaard e Primoz Roglic, ou pelo menos um deles, não falhará. Tal é a vantagem da formação neerlandesa no topo da classificação geral, que poderá dar-lhe o acesso ao galarim da história do ciclismo como a primeira equipa a vencer as três grandes voltas no mesmo ano.

Contudo, apesar de o favoritismo ser quase total da Jumbo, as principais rivais ficariam muito mal na fotografia desta Vuelta se não tentassem o tudo ou nada. Mesmo! Porque estar fora do pódio, como se encontram, é o mesmo do que nada. Logo, mesmo que TUDO, a camisola vermelha, seja um objetivo improvável contra os três corredores claramente mais fortes até ao momento na corrida, conquistar o pódio nestas condições e na derradeira oportunidade já seria muito mais do que QUASE. Seria um fim de festa… à espanhola.

Emirates: atacar desde a partida

Diz-se à espanhola, porque todos os plausíveis candidatos a intrometer-se na hegemonia (diz-se intrometer-se por quebra, reforce-se, deverá ser muitíssimo difícil), são corredores da casa: Juan Ayuso (UAE Emirates), Mikel Landa (Bahrain Victorious) e Enric Mas (Movistar), por esta ordem na classificação, atrás dos Jumbo.

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“É uma etapa onde há muito pouco espaço para recuperação”, disse o diretor desportivo da UAE Emirates, Joxean Fernandez Matxin. “Por isso, muitas coisas podem acontecer e esperamos lutar o melhor que pudermos, mesmo sabendo que a Jumbo é muito forte”, acrescentou o espanhol.

“Teremos de encontrar uma falha na armadura deles [Jumbo-Visma], mesmo que até agora não tenha havido nenhuma. Só pontos fortes e o domínio nas subidas…”, avisou Matxin. “Então, taticamente, temos de tentar algo e procurar uma solução”, anteviu.

“Desestabilizar as táticas do Jumbo-Visma desde o início será fundamental”, disse Matxin ao Cyclingnews, “porque, caso contrário, se controlarem a corrida durante todo o processo será muito mais difícil fazer qualquer coisa”, sublinhou.

“Portanto, os ataques têm de ocorrer nas descidas e subidas desde o início, e têm que ser contínuos por todas as equipas rivais, tentando eliminar os corredores de apoio da Jumbo para que possamos isolar os líderes”, revelou o diretor de Juan Ayuso, quarto classificado, João Almeida e Marc Soler, os dois últimos com previsível protagonismo nessa anunciada estratégia.

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“Ayuso é mais explosivo, Soler também, e Almeida é mais diesel. Teremos de usar essas qualidades a nosso favor. Correremos riscos, isso é certo, mas não temos nada a perder”, frisa o dirigente.

“E se chover” – como se prevê – “toda a gente vai ficar muito mais nervosa, será ainda mais complicada a etapa, mais técnica e perigosa. Conhecemos um pouco estas estradas desde os Nacionais de Espanha deste ano, e a última subida é difícil, mesmo sendo apenas de 3.ª categoria. Estamos na terceira semana de uma grande volta e qualquer esforço tem um preço alto”.

Bahrain: gastar as últimas balas

“Será uma etapa muito exigente”, concorda o diretor desportivo da Bahrain Victorious, Neil Stephens, o conjunto que mais tem tentado destabilizar a Jumbo-Visma na última semana, com Mikel Landa, quinto na geral, na sua liderança.

“É muito diferente das montanhas das Astúrias, as subidas são muito mais curtas, mas é um constante sobe e desce. O cansaço, como se sentiu hoje [sexta-feira] numa etapa plana já é elevado, por isso vai ter um papel muito importante”, analisou.

“As subidas não são muito íngremes, exceto a última, mas toda a gente vai gastar as últimas balas para ver aonde ainda consegue chegar”, perspetivou Stephens, que compara a uma etapa semelhante nas serras de Madrid na última semana da Vuelta de 2015, vencida pelo espanhol Ruben Plaza e onde o italiano Fabio Aru destronou o neerlandês Tom Dumoulin da liderança da geral.

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“Será mais um dia para Remco [Evenepoel], ideal para ele”, concluiu o antigo corredor autraliano.

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Imagens: Volta a Espanha Twitter, Bahrain Victorious Twitter e Jumbo-Visma Twitter

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