Um nome a não esquecer: Daniela Reis. Aos 27 anos coloca um ponto final numa carreira que ficará para a história do ciclismo português feminino. Daniela quebrou todas as barreiras, ultrapassou todos os obstáculos para chegar onde parecia ser impossível. Daniela esteve ao mais alto nível mundial. Foi pioneira. Além fronteiras perseguiu um sonho que continua a ser tão difícil de concretizar para as raparigas que desejam alcançar o sucesso mundial. Mas se hoje o desejam cada vez mais, muito se deve a Daniela Reis, que, ao chegar tão longe, mostrou o caminho que está a ser seguido por mais jovens ciclistas.

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É uma referência e não deixará de o ser só porque agora termina a carreira. No entanto, não era assim que se gostava de ver. “Ser referência… de certa forma é um bocado de pressão. Eu não quero ser diferente. Eu vou para as corridas para dar o meu melhor, em tudo o que faço. Em cima de tudo fico contente por haver mais portuguesas a acreditar que podem lá chegar e aos poucos sermos mais a correr lá fora. Acreditámos e conseguimos”, disse numa entrevista há dois anos ao Volta ao Ciclismo.

© Federação Portuguesa de Ciclismo

Ser ciclista significou muito sacrifício para Daniela Reis. Não o fazia pelo dinheiro, pois até trabalhava na padaria durante o Inverno para “ganhar uns trocos”, como dizia. O ciclismo era a sua paixão. Sempre pareceu que estar preparada para continuar a vencer os desafios que lhe surgiam (e não eram poucos), mesmo quando esses foram recuperar de quedas graves. E teve algumas! Aquando da entrevista referida, Daniela estava de regresso depois de um problema de saúde. Nesse fim-de-semana, em Belmonte (2018), foi grande a emoção quando se sagrou campeã nacional de contra-relógio e depois de fundo. Mais uma vez! Foram cinco e quatro, respectivamente, os últimos em 2019.

A Lares-Waowdeals (mudou depois de nome para Doltcini-Van Eyck Sport) foi a equipa que levou Daniela Reis a outro patamar. Esteve presente em algumas das principais corridas internacionais, como a Volta a Flandres, uma das suas preferidas, Giro, La Course by Le Tour de France, Madrid Challenge by Vuelta… A lista é grande. Ser líder? Não. Considerava que o seu maior potencial estava em ser uma gregária de qualidade. Era a função em que se sentia mais à vontade.

Este ano representou a Ciclotel, mas, pouco depois de competir no Le Samyn, Daniela Reis teve um acidente durante um treino. Um carro atravessou-se à sua frente e a ciclista ficou com vários ferimentos, o que implicou mais uma estadia no hospital. 2020 acabaria por ser o ano que se sabe, com uma pandemia a complicar e muito a realização de corridas. Daniela Reis nem nos Nacionais surgiu. Merecia uma última corrida… Uma despedida diferente.

© Federação Portuguesa de Ciclismo

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Com a selecção esteve em Mundiais e Europeus e tornou-se assim num modelo a seguir para ciclistas como Maria Martins, também ela também já numa equipa estrangeira (Drops). Raquel Queirós, Daniela Campos são mais dois nomes que se espera que alcancem um patamar elevado. Com os anos, espera-se que mais e mais mulheres cheguem longe, sigam o exemplo de Daniela Reis e possam ir ainda mais além, ajudando o ciclismo feminino português a crescer.

Daniela Reis sai de campo, mas deixa uma influência profunda no ciclismo nacional feminino, contribuindo para uma mudança de mentalidade na construção de uma carreira ao mais alto nível. Contribuiu para mudar a aposta na modalidade, mesmo sabendo que no feminino ainda faltam dar muitos passos rumo à consolidação do ciclismo em Portugal. Mas Daniela mostrou o caminho. Agora é segui-lo.

 

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(Texto originalmente publicado no blog Volta ao Ciclismo.)

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