A zona sul daquele que é considerado um dos mais belos acidentes geográficos do litoral português tem vindo a ser apetrechada com diversas ciclovias e ecovias. A ladear os inúmeros canais, rios e ribeiras, esteiros, barras e quebra-mares, zonas lagunares e outros espelhos de água (onde se inclui o Atlântico), uma viagem de bicicleta pelo Estuário da Ria de Aveiro é um passeio para toda a família, em dois dias de descoberta constante onde as únicas subidas são os acessos a pontes e viadutos.

PUB
Equipamentos GSG

Tudo menos monotonia. Há já vários anos que conheço relativamente bem esta região. Por variadíssimas vezes aqui andei, a esmagadora maioria delas em bicicleta.

Quebra-mar sul da Barra de Aveiro. Praia da Barra.

Contudo, a decisão de criar este roteiro, sobejamente apoiada pela rapaziada da Casa da Bicicleta, obrigou-me a pedalar de novo e por várias vezes pelo estuário, por forma a validar no terreno os percursos definidos em gabinete, mas agora com olhos de quem iria criar um roteiro para que outras pessoas o seguissem.

O que aparentemente era suposto ser uma tarefa repetitiva e monótona, sem nada de novo para registar e planeada para ser feita em apenas um dia, acabou por revelar-se um sem fim de pontos de interesse e paragem para contemplação, captação de fotos e apontamentos, o que me acabaria por “roubar” quatro intensos dias a registar no meu cérebro tanta informação nova que, repito, estava convencido já a ter.

Canal de São Roque. Aveiro.

Assim, perante o assombro de um passeio com tantas surpresas – mesmo para quem por cá já várias vezes tinha passado – demonstra a incrível riqueza em pontos de interesse que esta envolvente cénica tão exclusiva do norte do país tem para oferecer a quem gosta de passear/viajar por um qualquer local do planeta em cima de uma bicicleta.

PUB
Orbea Genius Dealers

Dia 1 – De Aveiro à Costa Nova

O passeio inicia, como é apanágio dos roteiros da Rede Nacional de Cicloturismo, numa estação de comboios. Apesar de este ser um edifício novo (sem interesse arquitetónico relevante, é apenas um “caixote” gigante), a antiga estação de Aveiro está lá mesmo ao lado, agora totalmente recuperada e com a azulejaria tradicional a contar um pouco da história da cidade e da região. Vale a pena algum tempo de contemplação.

Descemos então suavemente pelas ruas interiores da cidade, com pouco trânsito, até ao Canal de São Roque, onde se avistam os primeiros Barcos Moliceiros. A meio, desviamos pela bonita ponte ciclo-pedonal para observar o edifício do Mercado do Peixe.

Seguimos e, após a passagem pela ponte da eclusa, voilá: a Ria aos nossos olhos!

Marina da Lota Velha.

Uma série de pontos de interesse aparecem de rompante uns atrás dos outros: a Marinha da Noeirinha, cuja Loja do Sal é visita obrigatória e, mesmo ao lado, a Praia Artificial de Água Salgada.

PUB
KTM Macina Lycan 571 Glorious

Depois da Marina da Lota Velha, avistam-se mais salinas e o Complexo Turístico das Casas-Barco da OstrAveiro. Depois de um ziguezaguear por uma zona de armazéns, chegamos à zona portuária. E aqui, espante-se, há um sem fim de carcaças de embarcações de variadíssimos calados das quais se destaca a de um belíssismo, ainda que degradado, veleiro de quatro mastros (penso que um ex-bacalhoeiro).

Por esta estrada em paralelos, o que garante reduzidas velocidades, sente-se um cheiro intenso a bacalhau. Isso mesmo, existem por aqui diversos armazéns e lojas que comercializam o apreciado peixe seco, das quais se destaca a Gadus House. Entre e leve consigo algumas conservas, das quais destaco as enguias, iguaria típica da região.

Contornamos todo este complexo que ladeia a Gafanha da Nazaré, agora em ciclovia, fazendo um desvio para visitar o Forte da Barra e o cais, de onde agora parte para São Jacinto a novíssima balsa elétrica.

Seguimos logo depois para a maior ponte da região, atravessando-a pela ciclovia do lado norte, que nos leva até à Praia da Barra e ao mais alto farol do país.

Faróis da Praia da Barra e Quebra-mar sul.

E para melhor apreciar as vistas, percorremos o bem longo (quase 1 km) paredão sul da Barra de Aveiro, que se vê na foto inicial deste artigo. Os elementos que por aqui mais se vêem são faróis e torres de vigia. Não conheço outro local do país com tantos e tão variados.

Costa Nova.

PUB
Specialized Epic 8

Depois de se degustar uma tradicional Tripa de Aveiro, seguimos (por ciclovia) até à Costa Nova, a aldeia com as suas tradicionais casas pintadas à riscas com muitas destas construções a albergarem cafés, esplanadas e restaurantes. Pedalamos também um pouco pelas ruas interiores, onde ainda vive gente cujas vidas está intrinsecamente ligada à Ria e ao mar.

Dia 2 – Da Costa Nova a Aveiro

O segundo dia oferece novos e variados avistamentos, agora com uma ruralidade mais vincada. Seguimos assim de novo para a Ponte da Praia da Barra, que desta vez atravessamos pela ciclovia do lado sul.

Já do lado de lá, avistamos marinas com as suas pequenas embarcações, tanto de pesca como de recreio, e entramos num dos estradões do projeto Grande Rota da Ria de Aveiro, ao largo do qual se avistam, ainda que semi-afundados, diversos viveiros de ostras. É até provável que veja as gentes da terra a laborar na sua apanha.

Percursos BioRia. Ao fundo a Ponte da Praia da Barra.

Viramos para o interior, passando pela ciclovia da Mata das Dunas da Gafanha que nos leva até à (privada) Lagoa da Quinta da Boavista, onde há pesca desportiva.

Já na outra margem do Canal de Ílhavo (ou Rio Boco) seguimos até ao complexo industrial da Vista Alegre, onde uma história com 200 anos pode ser visitada no seu belíssimo museu, que dá direito a entrar numa dos centenários fornos de cozedura de vidros e cerâmicas. Imperdível.

Em calçada grossa seguimos pela bonita Estrada das Oliveiras, chegando mais à frente a Ílhavo. Seguimos então em direcção ao Campus da Universidade de Aveiro, ora em ciclovia ora em estradão de terra, atravessando diversas pontes ciclo-pedonais. Em frente ao campus podemos contemplar a bonita Marinha de Sal de Santiago da Fonte.

Pontes ciclo-pedonais.

Já no centro de Aveiro, visita ao bem agradável Parque Verde da Cidade e subida a uma obra de arte que é ao mesmo tempo uma passagem superior pedonal: a Passarela.

O ponto alto do passeio é mesmo a entrada no Canal Central, logo após um pequeno túnel pedonal, onde se avista arquitetura de ostentação típica da cidade. A melhor hora para aqui chegar é mesmo perto do pôr-do-sol.

Canal Central e Canal do Côjo. Estação de Comboios de Aveiro.

Depois da antiga fábrica de cerâmica da cidade, chegada de novo à Estação de Comboios de Aveiro.

Este passeio está incluído nos novos roteiros da Edição 2025 da Rede Nacional de Cicloturismo (são dez no total) e podem ser adquiridos no site oficial.

Boas viagens em bicicleta!


Mais info


A Edição 2025 da Rede Nacional de Cicloturismo, com os mapas e tracks GPS (incluíndo o passeio pelo Estuário da Ria de Aveiro) já está disponível.


A versão original deste artigo está no site Ecovias Portugal e na Edição 2025 da Rede Nacional de Cicloturismo.


Créditos das imagens e texto: Paulo Guerra dos Santos

Também vais gostar destes!