Chegou o momento de dar resposta à pergunta que surgiu após o lançamento destas novas bicicletas de gravel da Trek: porquê duas para fazer a mesma coisa? Primeiro, porque uma não faz tudo; segundo, porque nem todos temos a mesma definição de gravel.

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O gravel é a tendência mais emergente no mundo do ciclismo de hoje. Mas com o passar dos anos o gravel tem vindo a definir-se a ele próprio por via da interpretação que cada um de nós lhe dá, e, com isso, as marcas tiveram de se adaptar. E a Trek é uma dessas marcas.

Gravel Arrábida

A Trek Checkpoint foi “pau para toda a obra” (passemos a expressão) no catálogo da Trek naquela altura em que ainda pouco se sabia sobre esta vertente recente do ciclismo. Este modelo dava resposta aos mais aventureiros e aos mais racing, também.

Mas, este ano, na sua 3ª geração, a Checkpoint chega acompanhada pela sua “irmã” Checkmate, uma bicicleta gravel orientada para a competição e que vai buscar muito à nova Madone Gen8 de estrada.

Gravel Arrábida

Em traços gerais são estas as diferentes filosofias e objetivos apontadas a cada uma destas bicicletas. Tivemos oportunidade de andar com ambas nas semanas mais recentes… Agora resta saber qual das duas é a mais indicada para cada tipo de praticante de gravel. E isso depende de vários fatores.

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Trek Checkpoint SL 7 AXS

A nova versão de 2024 da Trek Checkpoint sofreu algumas alterações relevantes em relação à sua anterior geração, algo que a torna uma escolha mais sábia para o bikepacking, por exemplo.

Trek Checkpoint

Trek Checkpoint SL7 AXS

A geometria é agora “gravel endurance”, com um reach mais curto e uma frente mais elevada, o que garante uma viagem mais confortável. Agora podemos montar pneus de até 50 mm de largura em rodas 700cc, e existe até a possibilidade de equipá-la com uma suspensão de 40 mm de curso.

O sistema IsoSpeed continua presente e promete mais conforto nos terrenos mais irregulares. Isto é algo que não é fácil de comprovar, mas queremos acreditar que faz alguma diferença. Um dos outros detalhes interessantes é o espigão em carbono, mas de formato arrendondado, o que nos dá mais liberdade de escolha em termos de upgrades.

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Continuamos a aventura gravel! #gravel #ciclismo #trek

No cockpit tudo está igual, com um avanço integrado no guiador (no modelo em questão, é o Bontrager Pro Gravel em carbono e com 44 mm de largura. Este item permite mais versatilidade no transporte de carga, por exemplo. Podes ver aqui o setup que usámos na viagem/vídeo Gravel Arrábida.

À semelhança da Gen2, este novo modelo também tem o sistema de armazenamento integrado no quadro, com a respetiva bolsa de proteção. E confirmamos já que em termos de espaço é bastante generoso…

Por falar em proteção, o quadro está protegido nas escoras com uma espécie de plástico/borracha (do lado da transmissão) e a zona inferior conta também proteção contra impactos de pedras, etc.

Como acontece com grande parte das bicicletas da Trek, a Checkpoint (e também a Checkmate) estão providas do sistema UDH (Universal Derailler Hanger). E, apesar de a marca só apresentar opções de monoprato, a bicicleta está preparada para receber um sistema 2x.

Agora, a prova fundamental de que esta é uma verdadeira aventureira: pontos de fixação em todo o lado! A Checkpoint apresenta fixações na forqueta e (praticamente) em todo o frameset, o que é ideal para as novas bolsas da Trek (as Trek Adventure), que encaixam perfeitamente nestas fixações.

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Como é a Checkpoint na gravilha?

No “mundo real”, a Checkpoint surpreende pela positiva. Ficámos inicialmente “assustados” com as suas linhas largas e imponentes, mas a bicicleta é bastante contida em termos de peso (e há espaço para melhorias…), com apenas 9 kg no tamanho ML.

A transmissão Sram Force AXS corresponde muito bem e as rodas Bontrager Aeolus Elite 35V igualmente. O conforto está presente e a posição de condução é mais destemida no fora de estrada, muito graças ao guiador mais largo e à “testa” mais subida.

No entanto, gostávamos de ver aqui um sistema de transmissão Sram Eagle, algo mais suave para cenários por onde levámos a bicicleta carregada até à última grama (coisa de que ela é bem capaz!)…

Ah, e os pneus também podiam ser outros, pois não ficámos fãs destes Pirelli Cinturato Gravel H… Mas gostos não se discutem!

PARAÍSO do GRAVEL, é aqui? | Com as Trek Checkpoint e Trek Checkmate | Gravel em Portugal

Trek Checkmate SLR 7 AXS

E agora aqui está a ela, “o cavalo de corrida” de gravel da marca norte-americana. A Trek Checkmate impressiona pelas suas linhas agressivas; aliás, é muito semelhante a uma bicicleta de estrada.

Trek Checkmate SLR 7 AXS

E, sim, existe aqui muito de Madone, como é exemplo a tecnologia IsoSpeed, que é a mesma que está no referido modelo de estrada da marca. O guiador é também o mesmo, é o Trek Aero RSL Road. E até o espigão de selim é partilhado com ela.

E só de olhar para a bicicleta vemos perfeitamente algumas diferenças: a falta de pontos de fixação, as linhas mais direitas e menos clearance para os pneus (aqui de apenas de 45 mm de largura). E depois há aquilo que não se vê, como o carbono OCLV 800 (ao invés do OCLV 500 da Checkpoint) e a inexistência de armazenamento integrado no quadro.

A transmissão, essa, é a mesma neste versão, face à versão da Checkpoint com que andámos. Isto é bom para termos uma “comparação” mais justa e em termos mais equilibrados. Mas estes “pequenos pormenores” fazem também com que esta Checkmate, no tamanho ML, pese apenas 8.05 kg. Leve!

E depois vem a rigidez, a mesma que esperamos encontrar numa bicicleta de estrada, e em detrimento (um pouco) do conforto que a sua “irmã” proporciona.

Como é a Checkmate na gravilha?

Como seria de esperar, este modelo é menos versátil no fora de estrada. A rigidez, a geometria mais agressiva e “deitada”, o guiador mais estreito e os pneus mais finos fazem da Checkmate uma “princesa do gravel”, e isto no bom sentido da palavra.

Ou seja, é uma gravel que vai a todo o lado, mas que por vezes tem alguma dificuldade em palmilhar grandes distâncias, por exemplo. Ou melhor, ela não se “queixa”, nós é que podemos sentir mais desconforto face a versões e modelos mais virados para o bikepacking.

Por outro lado, assim que apanhamos terrenos ideais para o gravel como estradões lisos, planos e troços de alcatrão normal ou degradado, é aqui que ela ganha verdadeira vida. E não é mentira nenhuma dizer que se trata de uma autêntica bicicleta de estrada que consegue acomodar pneus mais largos…

As rodas Bontrager Aeolus Pro 3V OCLV são também superiores às que encontramos na Checkpoint SL 7 AXS e tornam a experiência ainda mais refinada numa vertante mais competitiva, mais racing, mais rápida.

Mas há uma vencedora?

A resposta é… depende. Depende do ciclista, do utilizador, dos sítios para onde leva a bicicleta de gravel, e também do orçamento disponível, claro.

Tanto a Trek Checkpoint como a Checkmate são versáteis, porque na verdade são as duas bicicletas de gravel equilibradas e “bem resolvidas”: ambas levam três bidons, permitem instalar guarda-lamas, têm fixações para malas e conseguem acomodar pneus de larguras muito generosas para o gravel.

Para quem procura passeio, voltas de bikepacking, pedalar sem destino e por vários dias, a Checkpoint é capaz de ser a solução mais indicada. Permite mais preparação para uma viagem grande, é bastante versátil.

Por seu turno, a Trek Checkmate é mais racing, foi pensada para andar mais depressa. Não é que não faça o que a outra faz, pode fazê-lo, mas a viagem não será tão tranquila e/ou confortável. Esta é mais para quem pratica gravel numa vertente mais de treino e de passeios curtos. Desafios de um dia, no máximo. E, claro, competição!

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Crédito imagens: Bernardo Gouveia // Rafael Prazeres 

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