Dia de descanso, hoje, mas quisemos ainda assim tecer a nossa habitual impressão sobre como decorre a Vuelta 2023… É que já lá vão nove etapas, mas o que está para vir pode mudar a corrida num ápice. A começar pelo contrarrelógio da 10ª etapa, já amanhã, 25,8 km em Valladolid, que começará a reconfigurar a classificação geral.

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Desde logo, Sepp Kuss terá um primeiro teste de fogo à sua camisola vermelha, num exercício em que não está particularmente à vontade e em que enfrentará alguns dos melhores especialistas, entre os quais o melhor do mundo da atualidade, Remco Evenepoel.

A história mostra que a vantagem de 2.22 minutos do trepador norte-americano sobre o campeão mundial de contrarrelógio pode ser anulada em menos de 30 minutos de corrida contra o relógio.

Uma análise dos dados recentes sugere que Evenepoel poderá ganhar entre dois e três minutos a Kuss no TT plano, rápido como este em Valladolid, traçado em longas rectas e avenidas largas.

“Vou dar o meu melhor, é tudo o que posso fazer”, disse Kuss no domingo sobre o contrarrelógio. “Só preciso estar relaxado e confiante. Até agora sinto-me bem, por isso veremos”, declarou.

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A Velo analisou todos os contrarrelógios recentes de Kuss e Evenepoel e desde logo o Giro de Itália em maio deste ano possibilita uma primeira comparação, com 19,6 km quase totalmente planos.

Nesse dia, Evenepoel foi 6,6 segundos/km mais rápido do que Kuss. Extrapolando esse registo para os 25,8 km do contrarrelógio desta terça-feira, o norte-americano poderia perder até 2.50 minutos. Olhando mais atrás, para 2022, no Tirreno-Adriático, aquela relação (6 seg/km) já se verificou.

De qualquer modo, não é de esperar que o atual camisola vermelha perca tanto tempo para Remco e para os outros adversários diretos na classificação geral. Uma vez que Kuss, devido à sua função habitual de gregário, estará longe de se empenhar ao máximo num contrarrelógio – fá-los-á para completá-los e não para… competir.

Além disso, a camisola de líder costuma dar força extra, embora cremos não o suficiente para o franzino corredor de Durango não perder grande parte da vantagem que tem para os especialistas candidatos à vitória na Vuelta.

Entre estes, o campeão olímpico de TT, Primoz Roglic, o dominador do Tour, Jonas Vingegaard, ou Juan Ayuso, João Almeida ou mesmo Enric Mas. Não é certo, mas Evenepoel deverá ganhar-lhes segundos, mas certamente não minutos. No caso de João Almeida, esperamos nós, portugueses, que não mesmo!

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Para dar um exemplo: Roglic perdeu cerca de 2 segundos/km contra Evenepoel na etapa de abertura do último Giro e um pouco menos quando Evenepoel ganhou a Vuelta no verão passado. Isso significa talvez 40-50 segundos em 25,8 km na terça-feira. Esta comparação pode servir também para João Almeida.

Estas antevisões sugerem que Kuss e Evenepoel podem estar separados por apenas uma dúzia de segundos na próxima etapa de montanha (11), na quarta-feira, mas que Roglic e Vingegaard – e esperemos João Almeida – estarão em alta, talvez mais uma dúzia de segundos atrás.

De qualquer modo, a etapa 13, sexta-feira, que termina no Tourmalet, será a primeiras de duas, no máximo três, decisivas. Quatro subidas nos Pirenéus franceses com 4.200 metros de acumulado em 135 km e final naquele mítico Col.

Deverá ser difícil travar a Jumbo-Visma, mesmo que não sacrifique Kuss. De resto, o desempenho de Kuss no contrarrelógio determinará o seu futuro nesta corrida no seio da equipa. Esqueçam-se as últimas nove etapas: a Vuelta começa verdadeiramente esta semana.

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Imagens: La Vuelta Twitter

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