A Campagnolo compartilhou uma entrevista interessante que fizeram com Stephen Barrett, treinador e cientista desportivo da AG2R Citroën, equipa para a qual o fabricante italiano de componentes fornece material.

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O trabalho por detrás dos treinos que decorrem no inverno, e que podemos chamar de pré-época, é enorme, com a dificuldade acrescida de nem todos os ciclistas são iguais e nem todos têm o mesmo papel dentro do equipa.

Stephen Barrett começa por salientar: “Alguns terminaram [a temporada] na Volta a Espanha, outros no Campeonato Mundial na Austrália e outros depois da Lombardia e do Paris-Tours. Depois disso, a maioria dos rapazes tirou três ou quatro semanas de férias, embora ainda estivessem ativos, caminhando, correndo, esquiando, mas apenas por diversão. É importante que eles recarreguem mental e fisicamente após a temporada competitiva.”

Isso significa, somado ao calendário de alguns corredores, que muitos deles começarão a pedalar com mais seriedade mais cedo. Foi o caso de Ben O’Connor, que liderou a equipa no Tour Down Under, além de, antes, ter competido nos campeonatos nacionais em seu país, “por isso voltou ao selim” logo no início de dezembro.

Outro detalhe que Barrett conta é que os treinos, inicialmente, não são específicos para cada ciclista, mas “no campo antes do Natal e certamente no do início de janeiro, as coisas ficam mais específicas”.

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Se se é um corredor clássico, um gregário, um de classificação geral, então o treino será mais específico para sua função na equipa. Por exemplo, alguns atletas fizeram corridas de ciclocrosse. Os corredores que se prepararam para a Austrália tiveram de aguentar uma intensidade maior.

Por isso, o volume de treino nas zonas de resistência de baixa intensidade será moderado, com um ou dois dias por semana – ou um ou dois dias por bloco – realizando trabalhos de maior intensidade, exceto para corredores que não competem até meados de fevereiro, que farão principalmente treino de volume.

Esse detalhe é importante e os fãs de ciclismo não têm em consideração. É que depois de um período de pouca atividade, é preciso ir com calma. Barrett aponta: “A maioria dos corredores, porém, continua a aumentar as horas de treino. Se se voltar para 20-30 horas de treino imediatamente, corre-se o risco de se lesionar. Então passamos as primeiras três ou quatro semanas fazendo 10, 12, 15 horas por semana. É uma abordagem progressiva antes da especificidade do campo de treino.”

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Não faltam os estágios em altitude e, em preparação para o primeiro grande bloco das corridas do WorldTour (Paris-Nice, Tirreno-Adriatico e Volta da Catalunha), que deverá decorrer por esta altura, final de janeiro/início de fevereiro, com outro grupo que o fará antes da Volta a Itália.

A tecnologia desempenha hoje um papel fundamental no treino, para se poder controlar os parâmetros de cada corredor e assim poder aperfeiçoá-los para as próximas corridas. Barrett indica que na equipa francesa do World Tour utiliza-se o TrainingPeaks, em conjunto com o medidor de potência. Além de recolher dados de potência, também analisam a frequência cardíaca e a sua variabilidade e os dados subjetivos.

Segundo o treinador, “isso é especialmente importante neste período do ano, porque temos corredores novos e corredores que não competem há muito tempo e todos estão super motivados”. E acrescenta: “Isso significa que às vezes se tende a forçar demais. Os treinadores e diretores desportivos prestam atenção a esses dados para garantir que cheguem à primeira corrida de 2023 em boas condições para fazer seu trabalho.”

Outro “gadget” que eles utilizam para “monitorizar” os corredores é o medidor de variabilidade da frequência cardíaca (HRV). “Muitos dos nossos ciclistas sempre usam o HRV através de um Oura Ring ou um Whoop e alguns usam uma aplicação chamada HRV4Training.”

“Foi criada por Marco Altini, cientista desportivo. Mede a VFC ao acordar de manhã para ver como se está descansar. É muito bom, embora, como todos os dispositivos deste tipo, se torne mais útil com o passar do tempo, pois é possível detetar tendências, por exemplo, se estamos a treinar de maneira ideal ou se estamos em overtraining.”

O treino indoor também está na ordem do dia (principalmente com mau tempo), com desempenho muito mais específico do que no passado que, como comenta Barrett, “um atleta poderia pedalar quatro horas numa bicicleta indoor sem um objetivo real.”

“Agora é mais específico em termos de intensidade e também é ideal para treinar a técnica de pedalada. Todas estas plataformas internas tornam as coisas um pouco mais agradáveis. Mas a utilidade real é que os ciclistas podem treinar nas suas bicicletas de contrarrelógio”, realça o especialista.

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Mas o treino indoor também inclui sessões de ginásio. A esse respeito, o treinador afirma: “Todos nós temos uma perna um pouco mais longa que a outra, por isso o treino de ginásio é ideal para melhorar os desequilíbrios das pernas. Podemos tentar reequilibrar as coisas no inverno, para ter mais resistência contra lesões quando as corridas começarem.”

“Alguns rapazes também fazem exercícios mais específicos com pesos, enquanto os trepadores se concentram mais na estabilidade e na força do central. Em relação aos novos profissionais, oferecemos-lhes um programa de iniciação em que fazemos uma triagem e vemos em que áreas podem melhorar”, finaliza Barrett.

NDR: Texto inspirado na entrevista que Campagnolo publicou em seu site Stephen Barrett. As fotografias também são do mesmo artigo.

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