Quando se vê o tipo de provas em que Josep Betalú compete, percebe-se que não é corredor para um qualquer desafio. Quanto mais difícil melhor. O espanhol ri-se quando se lhe diz isto, mas não o nega. Para ele tornou-se num estilo de vida e uma forma de mostrar que, mesmo já sendo “não tão jovem” (palavras suas), é possível continuar a ser atleta e competitivo.

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“É uma maneira de viver. Sempre a procurar algo mais, algo que me tire da zona de conforto. Ter a motivação para treinar, estar focado e seguir, seguir. É procurar um pouco mais, um ponto mais, um nível mais. Chega ao momento em que te envolves em coisas muito loucas”, confessou ao GoRide.

Foto: Facebook Josep Betalú

Como por exemplo, a “Gigante de Piedra”, uma das provas mais duras de BTT em Espanha. Em 2022 foram 202 quilómetros, com sete mil metros de acumulado. Difícil? Betalú não só fez a prova, (foi quarto, não podendo lutar pelo pódio devido a um problema mecânico), como na semana seguinte resolveu dar duas voltas ao percurso. Foram cerca de 27 horas a pedalar.

“Gosto de procurar coisas diferentes. É uma maneira para mostrar a todos que, se pensas que podes conseguir algo, já tens boa parte do caminho feito

“Foi algo muito, muito louco. Não fiz muitas coisas assim”, confessou, sendo que há que salientar que o fez cerca de um mês depois de se ter partido a clavícula numa queda no Skoda Titan Desert de Marrocos. E nesta prova é uma lenda!

Foto: Ruth Dávila/Facebook Josep Betalú

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Se na “Gigante de Piedra” foi um pouco mais além dos desafios que enfrenta, a verdade é que nunca procura facilidades. Mas será que alguma fez pensou que talvez tivesse exagerado? Parece que não…

“É como disse, gosto de procurar coisas diferentes. É uma maneira para mostrar a todos que, se pensas que podes conseguir algo, já tens boa parte do caminho feito. Se acreditas que é possível, vais num bom caminho. É uma maneira de mostrar às pessoas, de motivar. Quando se tem vontade e disciplina para conseguir algo, então é possível”, salientou.

Sempre otimista e competitivo

Apesar desta mentalidade, não significa que pense que não existem impossíveis. Porém, acredita que, com força mental, é mais do que possível concretizar os mais diversos objetivos.

Foto: Elisabete Silva/GoRide

“O que faço muitas vezes parece ser difícil. O melhor é que lido bem com a parte mental. Muitos não o fazem. Não é tanto a questão física, mas sim a parte mental. Se acreditas, então é possível.”

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Betalú não esconde o seu lado competitivo, ainda que, com a idade, as coisas vão mudando um pouco. Recordou que quando era criança já tinha tendência para procurar algo diferente.

“Em jovem era mais competitivo, queria ser melhor do que os outros. Agora, não tão jovem, é mais para me motivar e mostrar a todos que se pode fazer coisas melhores

“Os meus amigos dizem-me que sempre fui especial. Recordo-me desta palavra ‘especial’. ‘Tu querias sempre coisas que diferiam dos outros’, é o que me dizem”, contou.

“Por exemplo, quando éramos miúdos, fazíamos um salto e todos saltavam três metros. Pois o Beta [como é tratado] lá vinha, a toda velocidade e saltava três metros e meio! Queria sempre um pouco mais que os outros.”

“Em jovem era mais competitivo, queria ser melhor do que os outros. Agora, não tão jovem, é mais para me motivar e mostrar a todos que se pode fazer coisas melhores”, acrescentou.

Foto: Facebook Josep Betalú

A bicicleta como forma de vida

Andar de bicicleta é há muito algo que faz parte da vida de Josep Betalú. Diz mesmo ser “um estilo de vida”.

“Preciso da bicicleta para sair, para treinar, para libertar-me mentalmente quando tenho problemas e preciso sentir-me bem fisicamente. Preciso sentir-me forte fisicamente. Preciso sempre de sentir que tenho um nível físico alto”, realçou.

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Chegou a ser ciclista de estrada, teve uma loja, mas quis algo mas… diferente. Deixou tudo pelo BTT e pelos grandes desafios, ainda que goste de diversificar e não diz não a corridas mais curtas.

Foto: Skoda Titan Desert Almería

“Sempre gostei das corridas ultra-longas, provas longas, que tenham algo de complicado, de difícil. Essas que quando terminamos não sabemos se vamos voltar porque são tão duras! A mim é o que me motiva, mas se houver uma corrida mais curta, mais explosiva… Gosto de terrenos super diferentes, pode ser no deserto, nos trópicos, em altitude, ao nível do mar. Se não me dou tão bem num, então treino para adaptar-me ao percurso”, afirmou.

Preparação mental e física

Betalú referiu várias vezes como a preparação mental é muito importante. Por si só, é muitas vezes um desafio, principalmente quando chega o momento de enfrentar adversidades, como as lesões, por exemplo.

“Tenho 45 anos e é uma idade um pouco especial. Tenho a possibilidade de andar de bicicleta e quero mostrar que não é preciso ser jovem para se andar de bicicleta e para render [competitivamente]

“Eu creio que a parte mental é super importante. Porque tens de pensar em tudo o que tens de treinar, que vai ser um processo duro, que tens de descansar, tens de pensar em não lesionar-te…”

“Nestes últimos dois anos não tive tanta sorte como noutros e lesionei-me bastantes vezes. Estive a ponto de romper o tendão de Aquiles, parti a clavícula, tive vários problemas nas costelas…”

Foto: @jordi_rierola/Facebook Josep Betalú

“Um mês antes da Titan lesionei-me no joelho… São contratempos que há dois anos não me aconteciam e agora aconteceram-me muitas coisas que as pessoas não sabem. Dizem que o Beta não está no seu melhor… Não pensam no que pode estar a acontecer.”

“Tenho 45 anos e é uma idade um pouco especial. Tenho a possibilidade de andar de bicicleta e quero mostrar que não é preciso ser jovem para se andar de bicicleta e para render [competitivamente]. Que se pode ter uma idade mais avançada, mas se te tratares bem, comeres bem, descansares, então podes ser atleta durante muitos muitos anos com bom rendimento”, frisou.

“O normal é [treinar] sempre três/quatro horas, mas tenho dias que treino sete/oito horas e outros entre duas a duas horas e meia

Um conselho que dá e ao que acresce um abrir do livro do seu dia a dia para conseguir estar ao mais alto nível a meio dos 40. Betalú referiu que treina praticamente todos os dias. Descanso?

“Descansar sem fazer nada são dois ou três dias… por mês! No dia em que não tenha vontade de treinar ou se me sinta cansado, saio a fazer duas horas, é como mais um passeio…”

Foto: Skoda Titan Desert Almería

Treina normalmente de manhã, mas também depende de onde está (passa grande parte do ano na Costa Rica) e das condições meteorológicas. “O normal é sempre três/quatro horas, mas tenho dias que treino sete/oito horas e outros entre duas a duas horas e meia”, explicou. Quando quer descansar, mas sem estar sem fazer nada, pedala durante uma hora ou duas, num ritmo mais relaxado.

Quanto à alimentação, o espanhol é vegetariano. “Não como carnes, não como marisco, não como peixe… Por vezes como peixe, por exemplo em dias como este [em competição], em que não tenho [acesso] a minha alimentação e para ter a proteína que preciso. Mas a minha alimentação é vegetariana.”

Perpetuar a lenda

As provas da Titan Desert ajudaram a tornar Josep Betalú numa referência. É mesmo uma lenda, pois soma quatro vitórias em Marrocos, ao que se junta uma na Arábia Saudita. A prova marroquina já tem muita história e o corredor ambiciona chegar à muito desejada quinta vitória. Mas não está fácil. Lá está… um desafio ao seu gosto!

Foto: Skoda Titan Desert Marrocos

“Seria especial ganhar a quinta! Mas os adversários são cada vez melhores. Já tive a hipótese de ganhar a quinta, mas entre avarias e quedas não foi possível”, disse.

“Quando ganhei a quarta Titan Desert, disseram-me que eu vencia facilmente. Inicialmente pode parecer que é fácil, mas logo te dás conta que não é assim tão fácil. Não sei porquê… tive boa sorte e consegui ganhar quatro vezes consecutivas. Mas depois dás-te conta que não é assim tão fácil quando não se consegue ganhar a quinta. Mas vou continuar a tentar”, ficou a garantia.

Foto: Titan Desert Marrocos

Também participou no Titan Desert de Almería, mas não assenta tão bem nas suas características: “O percurso é diferente. A nível de montanha tem um pouco mais, mas não muito. Gosto da corrida, mas não tenho o benefício de navegar, como que gosto. No GPS vais pelo trilho, não podes cortar. E não tem os benefícios das dunas, como acontece no deserto. É nestas coisas que normalmente eu tenho vantagem sobre os rivais e em Almería não tenho.”

Foto: Skoda Titan Desert Almería

O desejo de correr em Portugal

Josep Betalú admitiu que deseja muito vir a Portugal. Recorda que já esteve perto de competir na Madeira, mas acabou por não se concretizar.

“Nunca estive em Portugal. Tenho amigos e sigo corridas em Portugal. Gostaria muito de lá ir. Já vi muito sobre o país. Sei que tem zonas muito bonitas… Está pendente ir a Portugal. Espero correr lá.”

Foto: Facebook Josep Betalú

Também por cá há muitos desafios e se Josep Betalú tem como um dos principais objetivos conquistar pela quinta vez a Titan Desert Marrocos e também uma quinta Ruta de los Conquistadores, na Costa Rica – outra prova de muitos quilómetros e muito acumulado -, este corredor quer muito mais, na incessante busca por novos reptos.

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Fotografia principal: Skoda Titan Desert Almería

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