Se há época que Rafael Reis não vai esquecer será de 2021. Até é um ciclista já com muitas vitórias na carreira, com outras temporadas de sucesso. Porém, andava mais discreto até que encontrou na agora Glassdrive/Q8/Anicolor uma família que o fez recuperar a confiança e a motivação de outros tempos. Resultado? Uma Volta a Portugal memorável e a vontade de continuar no topo.

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Rafael Reis, 29 anos, é um dos melhores contrarrelogistas portugueses, mas com capacidade para lutar por vitórias em determinados terrenos. Não é um trepador e não vale a pena especular se pensa em fazer uma transição para não somente vestir a camisola amarela na Volta, mas eventualmente disputá-la até ao fim. Está satisfeito com aquilo que é e com o que pode dar no ciclismo.

© João Fonseca Photographer

“As coisas estão a correr bem. Acho que encontrei o meu caminho. A equipa toda encontrou uma família em que todos se sentem bem e acho que isso foi a chave no ano passado e este ano vai ser igualmente bom”, salientou ao GoRide.pt.

Depois de despontar na W52-FC Porto, o salto para o estrangeiro parecia inevitável, naquela que foi a sua segunda experiência lá fora. Desta feita na Caja Rural, equipa espanhola do segundo escalão e com grande prestígio. Chegou a estar na Vuelta, mas Rafael Reis regressaria dois anos depois à sua antiga formação, passando depois pelo Feirense. Aqui e ali viu-se aquele ciclista de qualidade e vencedor, mas sem o fulgor de outrora.

“São momentos numa carreira. Fui ganhando, não tanto quando antes. Passamos por momentos menos bons. Mesmo a nível pessoal as coisas são reservadas e podem não estar a correr tão bem. O fundamental foi ter encontrado aqui [na Glassdrive/Q8/Anicolor] o meu espaço e a motivação e as coisas agora estarem a correr bem”, salientou.

Encontrar estabilidade e confiança

Para o ciclista, o essencial é estar focado no presente e não hesita em referir o que mudou quando assinou pela atual equipa: “A motivação, principalmente. A motivação foi o mais importante que conquistei no ano passado. A equipa deu-me a confiança necessária e as pessoas acreditam em mim. Acho que os resultados vêm daí”.

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O contrato até 2024 ajuda à estabilidade que um atleta precisa. “A segurança que dá… Daí a confiança que nos têm dado. Mostram confiança em mim e isso é fundamental”, reitera. E perante a satisfação que sente na Glassdrive/Q8/Anicolor, não estão nos seus planos outras aventuras. Isto é, ao recuperar a sua melhor versão não signifique que esteja a pensar noutros voos. É na “família” que agora encontrou que quer continuar a mostrar o seu valor, o seu melhor e ajudar os colegas a alcançarem vitórias.

Temos dos melhores [contrarrelogistas] do mundo aqui no país. Nunca vai ser fácil atingir esse objetivo [ser campeão nacional], mas obviamente que vou lutar por ele.

Rafael Reis nem coloca muitos objetivos pessoais específicos. Nem mesmo repetir a fabulosa Volta a Portugal de 2021. O que quer é estar ao mesmo nível: “Tive um inverno consistente, se bem que sofri uma lesão no joelho, mas estou bem preparado e acho que, mais cedo ou mais tarde, vou conseguir começar a apresentar resultados. Acho que vou estar bem durante o ano”.

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Depois de contar com triunfos em várias corridas em Portugal, continua a faltar no seu palmarés um título nacional de contrarrelógio, a sua especialidade. Alcançou-os nos escalões de formação, mas em elite a missão está complicada, sendo que tem terminado quase sempre no top cinco ou mesmo no pódio. Rafael Reis sorri quando se fala dessa camisola que ainda não vestiu, desabafando: “É muito difícil. A verdade é que temos dos melhores do mundo aqui no país. Nunca vai ser fácil atingir esse objetivo, mas obviamente que vou lutar por ele”.

A memorável Volta a Portugal

Era impossível não se falar sobre a fantástica Volta a Portugal que Rafael Reis e a sua equipa realizaram em 2021. Acabou por ser algo agridoce, com Mauricio Moreira a cair no contrarrelógio final e assim ver escapar a possibilidade de vencer a corrida.

Rafael Reis contou que, ao ver o companheiro cair, que também lhe caiu tudo. Por momentos, ainda acreditou que talvez ainda conseguisse vencer, mas no final não houve a festa desejada, apesar de ter sido Rafael Reis o mais rápido da última etapa. A sua quarta vitória naquela edição, além de conquistar a camisola verde dos pontos.

Rafael Reis de amarelo na Volta a Portugal. © Agnelo Quelhas/Podium Events.

Durante aquelas dez etapas e um prólogo, houve muita felicidade na então Efapel, pois também Frederico Figueiredo e Mauricio Moreira triunfaram.  Muitos dos melhores momentos foram de um imparável Rafael Reis. Foi imbatível no prólogo e, no segundo dia, a correr em casa, em estradas que tão bem conhece, tinha o plano bem delineado. Uma descida louca na Arrábida valeu-lhe uma espetacular vitória em Setúbal.

Estou contente pelo que consegui naquela Volta e o objetivo é estar ao mesmo nível, não pensar em repetir.

Porém, se esses dois dias terminaram exatamente como tinha previsto, o que se seguiu foi sendo delineado durante a corrida. O corredor recordou a sétima etapa, entre Felgueiras e Bragança, que acabou por vencer e vestir novamente a camisola amarela.

“Terminar a descer em Bragança, foi um plano. Ir para a fuga e fazer aquilo comigo e com o [Luís] Mendonça. A etapa era para ser para o Mendonça. Mas não podíamos esperar, estavam [os perseguidores] a 10 ou 15 segundos… Não podíamos parar. Foi uma decisão que tomámos em cinco segundos. Não dava, ele também teve azar, acaba por furar”.

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Será que Rafael Reis alguma vez imaginou uma Volta assim? “Não. Estava mentalizado para os dois primeiros dias, que tinham de ser assim e não estou a dizer porque aconteceu, é mesmo verdade… Correu bem e fiquei extremamente orgulhoso!”.

Quando vestiu a amarela com apenas três etapas para o fim, surgiu a questão se Rafael Reis teria capacidade para lutar por ela até ao fim. Se o contrarrelógio era para si, já ter de subir a Serra do Larouco num dia e logo a seguir a Senhora da Graça… O ciclista não é um trepador nato e mesmo aqueles dias de amarelo na Volta não o demovem de prosseguir a sua carreira tal como está. Não quer pensar em transformações para disputar a Volta a Portugal.

“Eu sou o ciclista que sou e estou contente. Não estou a pensar fazer mais qualquer coisa. Claro que queremos sempre melhorar, queremos sempre ficar melhor noutros aspetos. Estou consciente das minhas capacidades. Fazer aquilo que fiz não é fácil. Estou contente pelo que consegui naquela Volta e o objetivo é estar ao mesmo nível, não pensar em repetir”, realçou.

Competitividade no pelotão

Glassdrive/Q8/Anicolor e W52-FC Porto têm sido as duas equipas em maior destaque nos últimos no pelotão nacional. Porém, para Rafael Reis – que conhece bem as estruturas de ambas – é importante que a competitividade no pelotão seja alta.

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“É bom aparecerem equipas novas e as outras reforçarem-se. É importante para o pelotão ser mais homogéneo e não haver essas guerras, como diziam, entre duas equipas. É importante para o crescimento do ciclismo e para a aposta dos patrocinadores no nosso desporto”, afirmou. O ciclista frisou ainda como mais competitividade também se traduz numa melhor evolução dos corredores.

Rafael Reis esteve presente na primeiras duas corridas do ano do calendário português, Prova de Abertura Região de Aveiro e Volta ao Algarve, e é certo que é um elemento fulcral numa equipa que aposta muito na Volta a Portugal, mas que quer somar outras vitórias durante a temporada que por cá começou neste mês de fevereiro.

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