A Cannondale Trail SL 2 é uma bicicleta concebida para elevar a experiência do rider no trilho de BTT “puro e duro”, e isto com um preço relativamente acessível, o que faz, naturalmente, que os componentes e equipamento fiquem pela gama média. E com que o quadro seja feito de alumínio, exatamente. Vamos perceber o que este modelo de trail da marca consegue fazer…

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Antes disso, podemos tentar situar este modelo no catálogo da Cannondale e também entre as diversas “especialidades” do BTT, pois nem sempre é fácil perceber o que é o quê… A marca afirma que se trata de uma bike de trail, logo não é uma daquelas bicicletas puramente viradas para o XC, longe disso.

Foi desenhada especificamente para voltas de montanha, mas está, no entanto, preparada para fazer de tudo um pouco. Um rider de trail tende a inclinar-se mais para a parte aventureira da modalidade: faz as mesmas coisas que um rider de XC, mas procura mais os obstáculos e as dificuldades naturais dos trilhos.

No fundo, são experiências mais desafiantes, em busca de desafios tecnicamente mais difíceis. Depois, neste campo, há modelos mais caros e mais baratos, naturalmente…

Ao nível da bicicleta em si, as grandes diferenças prendem-se na geometria, com chainstays mais curtos (a distância entre o eixo traseiro e o seat tube), algo que permite ao ciclista adotar uma posição mais equilibrada relativamente ao centro de gravidade da bike.

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Por outro lado, neste tipo de bicicleta de BTT encontramos de origem avanços mais curtos, em busca de mais estabilidade e controlo, especialmente nos trilhos mais técnicos e exigentes, porventura a descer.

Quadro progressivo?

Em alumínio, o quadro da Cannondale Trail SL 2 apresenta uma geometria “trail-ready”, com escoras curtas como principal elemento “fora da caixa” e com destaque visual para a pintura premium que ganha outra vida quando exposta ao sol. Muito bonita.

Simplicidade e minimalismo serão, talvez, os conceitos chave na definição deste quadro, com cablagem parcialmente interna e soldaduras parcialmente “disfarçadas”. Mais: roda bem “recuada” para debaixo do selim, furação para dois bidons, furação para guia de corrente ou desviador frontal… Frente inclinada, para melhorar a abordagem aos obstáculos.

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Há também compatibilidade com a instalação de um espigão telescópico, se quisermos.

No terreno, sentimos que se trata de uma bicicleta discreta, simples e minimalista, com um comportamento surpreendentemente rápido. A bicicleta é de entrada de gama, mas surpreende, pois temos a sensação que estamos perante uma bicicleta um pouco mais acima na gama, isto em termos dinâmicos de não de equipamento, refira-se.

Com aquela roda “empurrada” para debaixo do selim e a consequente posição central do rider relativamente ao centro de gravidade, o comportamento em single track e descida é muito positivo, apesar de estarmos perante uma hardtail. O guiador largo, com 760 mm, e o avanço curto melhoram a manobrabilidade e a rapidez de resposta da bicicleta.

Competente a rolar e a descer, mais também a subir. Estável, com desmultiplicação mais que suficiente para as “paredes” mais íngremes que se nos deparem, apesar de não ser um modelo de XC.

O único aspeto menos positivo prende-se com o “nervosismo” da direção e da roda da frente quando em subidas rasgadas por valas causadas pela chuva: a direção tende a querer fugir das nossas mãos, talvez fruto do avanço mais curto, mas algo que com habituação aprendemos a solucionar tecnicamente.

Equipamento ‘discreto’

Naturalmente, dado o preço a rondar os 1.650 euros, notamos depois que não temos acesso a equipamento premium. A transmissão é um exemplo disso mesmo, ficando a cargo da Shimano, com um sistema de 12x e prato pedaleiro único, neste caso um Deore com 30 dentes apenas. Mais do que suficiente para ultrapassarmos todas as subidas de um dia nos trilhos, talvez um pouco curto em voltas mais rolantes.

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Desviador traseiro SLX long cage com as tecnologias mais recentes da Shimano, algo preciso e silencioso, com trocas de relação sem falhas. A cassete é da gama Deore, com 11-51 de relação. O shifter é também Deore.  Apesar de todos os abusos a que sujeitámos a bicicleta, mesmo sem guia de corrente a mesma não saltou uma única vez.

A transmissão movimenta umas rodas WTB STX i23 TCS, 32h, tubeless ready, com cubos Shimano boost. Não sendo um conjunto propriamente leve, é, contudo, robusto e rígido. Construídas em alumínio com raios em aço, certamente não deixaram ninguém “apeado”. Saíram sem empenos dos nossos testes.

A borracha é Schwalbe Rocket Rick, 29 x 2.25. Mais uma vez, pneus algo pesados, mas com boa aderência. Alguma resistência ao rolar, apesar do comportamento razoável em trilhos com raízes e descidas técnicas.

Os travões são também Shimano, da gama MT400, com disco de 180 mm à frente e 160 mm atrás. Poder de travagem competente, em linha com o nível dos outros componentes da bicicleta, mas longe da eficácia total de uns Shimano XTR…

Suspensão ‘inclinada’

A suspensão é uma RockShox Judy Gold RL de 100 mm, um curso que se supunha poder ser um pouco maior dada a utilização preferencial da bike. Mas chega, parece-nos. Enaltece-se o facto de ser uma suspensão solo air e boost, com um grau de inclinação adequado para encarar descidas rápidas com mais confiança.

No entanto, é algo pesada e tem dificuldade em “ler” quando o terreno tem muitos obstáculos. Fica um pouco aquém na vertente da suavidade e ressalta um pouco em terrenos muitos duros e acidentados. Mas, mais uma vez, este é um componente em linha com os restantes e com preço da bike.

Por fim, os periféricos, quase todos “in house”: avanço, punhos, espigão, selim, todos Cannondale. Em destaque está o guiador FSA Rise em liga de alumínio, sobrelevado, com uns generosos 760 mm, como já referimos. Aumenta a confiança no ataque a obstáculos, mas, em single tracks mais fechados, é necessário ter atenção para não ficarmos presos num trilho mais fechado.

Sinceramente, não gostámos do selim, demasiado comprido e sem buraco prostático. Um bocado duro. Mas este ponto é sempre altamente subjetivo, como sabemos, pois o que agrada a uns pode não agradar a outros.

A nossa avaliação

Esta é uma bicicleta muito versátil e que responde bem a quase todas as solicitações. Fruto do centro de gravidade, é facilmente manobrável, tem uma boa posição de condução. Não se nega a nenhuma subida, mas é necessário ter atenção quando as subidas são mais acidentadas por causa do nervosismo da direção.

Desce bem, apesar de ser uma hardtail e de acharmos que a suspensão é “curta” para alguns cenários mais acidentados. Por outro lado, a geometria é muito moderna e eficiente, proporcionando um arranque espetacular.

A aceleração, por exemplo, é brutal. Mal forçamos os crancks a Cannondale Trail SL 2 simplesmente “dispara”, atingindo velocidades altas muito rapidamente.

Muito divertida de conduzir em single tracks rápidos e sinuosos, é necessário ter atenção é aos 760 mm de guiador. Uma bicicleta indicada para trilhos de baixo impacto ou para aquelas voltas descontraídas de lazer.

Alguns destaques:

Frente à altura

A secção frontal e de direção desta Cannondale assume uma posição bastante alta e capaz de dar-nos controlo total nos trilhos, pelo que tivemos oportunidade de experimentar durante várias semanas.

O avanço da marca não está invertido e eleva a “testa” uns mm, enquanto o guiador FSA Riser em alumínio é sobrelevado a 15 mm, além de dar largura de 760 mm. As escolhas certas, tendo em conta o preço global da bike.

Quadro em alumínio

Este quadros Trail SL é feito de alumínio Smartform C2 e as soldaduras de união estão pouco disfarçadas, o que até dá um look interessante à estrutura. Em termos de construção, a robustez é a palavra de ordem e sente-se efetivamente essas característica nos trilhos, especialmente a descer depressa.

Prato 30t

Os cranks Shimano M6100 estão alocados a um prato de apenas 30 dentes, algo muito pouco normal em bikes de XC (que têm 32t ou 34t, pelo menos), mas mais usual em bicicletas de entrada no vertente trail. Está adequado, mas riders mais avançados vão precisar de mais cadência nas secções mais rolantes…

Posição de ataque

A geometria do quadro em alumínio, a altura ao solo do eixo pedaleiro e a “testa” alta dão-nos uma posição sempre elevada e agressiva, para encararmos os obstáculos com mais confiança, à partida.

Cannondale Wheel Sensor

É um sensor instalado no cubo de roda dianteiro que recolhe e monitoriza dados como velocidade, distância, calorias queimadas, etc, tudo isto através da ligação por Bluetooth ao smartphone com a Cannondale App.

Também podemos usá-la para registar a bicicleta e definir lembretes para as revisões, entre outras possibilidades. Falámos desta funcionalidade na nossa review recente à Cannondale Scalpel Carbon SE LTD Lefty, uma bike que também se vira mais o trail e que também usa este sensot.

Pontos mais positivos

  • Bom comportamento em curva indo depressa ou devagar.
  • A pintura é simplesmente linda…
  • Versatilidade de utilização e boa posição de condução.

Pontos a melhorar

  • A suspensão surge determinada pelo patamar de preço da bike, mas podia ter mais curso. 120 mm, no mínimo.
  • O selim pode ser um dos primeiros upgrades a fazer…
  • Comportamento da direção duvidoso em algumas subidas técnicas.

Especificações da Cannondale Trail SL 2:

  • Quadro: Trail SL, Smartform C2 Alloy
  • Suspensão: RockShox Judy Gold RL 100 mm
  • Manípulo: Shimano SLX
  • Desviador: Shimano SLX 12x
  • Pedaleiro: Shimano M6100 30t
  • Cassete: Shimano Deore M6100, 10-51t, 12x
  • Corrente: KMC X12 12x
  • Travões: Shimano MT400 180/160 mm
  • Rodas: WTB STX i23 TCS, 32h, tubeless ready
  • Pneu frente: Schwalbe Rocket Rick, 29 x 2.25″
  • Pneu trás: Schwalbe Rocket Rick, 29 x 2.25″
  • Selim: Cannondale Ergo XC
  • Guiador: FSA Alloy Riser, 15mm rise, 760mm
  • Punhos: Cannondale Locking Grips
  • Preço: 1.649 euros

Site oficial:

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Neste teste:

  • Texto e teste: Nuno Granadas e Jorge D. Lopes
  • Fotos e vídeo: Jorge D. Lopes
  • Rider nas imagens: Nuno Granadas

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