Podermos andar numa Specialized Epic e levá-la ao limite é sempre épico, não é verdade? Os primeiros modelos desta gama da marca norte-americana surgiram logo no início dos anos 90, pelo que são já anos e anos de desenvolvimento… No caso desta Specialized Epic Pro, é verdade que já não é novidade. Mas quisemos testá-la ainda antes de chegar o modelo de 2022 e de uma forma muito especial…

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Para a marca (e para todo o mercado de bicicletas de BTT), a Epic é uma referência. Um ícone em provas e circuitos mundiais de XCO, apurada ao longo do tempo em função da performance nos palcos das grandes corridas. A Specialized nunca escondeu que deseja que esta seja sempre a bicicleta mais rápida da história do XC.

Com a Epic Pro nas mãos, a sensação é muito boa. Bem sabemos que esta unidade que testámos não é o topo de gama, pois essa posição está reservada para a versão S-Works, mas acreditem que as parecenças são mais do que muitas. A começar pelo quadro: é praticamente tão leve como o da anterior S-Works, que tivemos oportunidade de experimentar no passado.

Um “maquinão”, portanto, não estivesse também equipada com umas belas rodas Roval Control em carbono e com um conjunto SRAM X01 Eagle AXS (já lá vamos…). Para “honrar” esta bicicleta, quisemos fazer algo fora do normal e além das nossas habituais voltas de BTT, um teste que permitisse verificar ainda com mais afinco o que é capaz de fazer esta Specialized Epic Pro.

Do Porto a Santiago de Compostela

Esta aventura começou logo pelas iluminadas ruas de Lisboa, desde o início da sobejamente e emblemática calçada de Carriche até à estação de Santa Apolónia, onde apanhámos o comboio Intercidades até à estação da Campanhã, no Porto.

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No dia seguinte, com tudo ponto e mochila às costas, iniciámos o Caminho rumo a Santiago de Compostela, um desafio a completar em dois dias.

Este foi o cenário para “sentirmos” esta Epic a fundo, dado que o percurso é muito diferenciado, como alguns de vós decerto sabem: grandes subidas, pistas abertas, alguns singletracks, descidas rápidas e repletas de pedra, alcatrão… De tudo um pouco e as condições perfeitas para testarmos como deve ser esta bela bike.

Logo nos primeiros kms apercebemo-nos imediatamente que esta é uma bike para competição: dinamicamente perfeita, rápida, intuitiva. Mas antes será sempre preciso colocá-la “no ponto”. Em que se traduz isso mesmo?

Basicamente, afiná-la e ajustá-la à nossa estatura e gosto, especialmente no que diz respeito ao nosso sistema Brain e às distintas possibilidades que proporciona. Foi por aí que começámos, e com o pensamento já antigo de que nunca fomos fãs a 100% deste sistema…

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Contudo, terminadas as afinações e em pleno andamento mais técnico, admitimos que a evolução recente tem sido determinante. Um desempenho brutal! E isto nota-se especialmente em descidas rápidas e com piso bastante degradado, onde a bike revela um funcionamento na perfeição, com uma leitura do terreno minuciosa e uma perfeita adaptação. Ou seja, conseguimos andar mais depressa de uma forma mais segura.

Novo sistema Brain

Recordamos que este sistema desenvolvido e patenteado pela Specialized assenta numa tecnologia de válvula de inércia capaz de ler as irregularidades do terreno, abrindo ou fechando o fluxo de óleo no amortecedor, para que este funcione como um bloqueio automático.

Assim, este atua de acordo com o estado do terreno e de acordo com a força do utilizador durante a pedalada. Nesta mais recente versão foram também tidos em conta aspetos com a estrutura, a durabilidade e ainda o peso da bike. Mas não é só…

A câmara onde está o pistão flutuante está agora por baixo do corpo principal e está perfeitamente integrado nessa mesma câmara, que é mais protegida e robusta, permitindo um fluxo de óleo até ao amortecedor mais eficaz.

Já a parte principal, a que integra a válvula do sistema Brain, está na extremidade da bike, junto ao eixo da roda traseira, integrando o suporte de aperto da bomba de travão traseiro, o que permite libertar a tensão dos tirantes e potenciar ainda mais uma leitura de terreno mais sensível.

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No fundo, uma “obra prima” da Specialized, que está cada vez mais sensível e que proporciona ao BTTista uma forma eficaz para desfrutar de uma condução mais rápida e segura. Contudo, relembramos que as bikes equipadas com este sistema apresentam sempre um preço bastante elevado, dependendo do resto do material instalado, claro.

Dinâmica no terreno

Sempre a fundo, literalmente… É assim que gostamos e tentamos andar. E é assim que esta Specialized Epic Pro gosta de andar, também.

Trata-se de uma bike pensada para competir, bastante completa, e cujo quadro em fibra de Carbono Fact 11M está mais leve e garante exímia estabilidade e confiança. Confirma-se que é uma bike fácil, intuitiva, sendo possível colocar a frente onde desejamos, mesmo com a possibilidade de corrigir alguns erros de trajetória ou irregularidades de terreno mais profundos.

As suspensões com curso de 100 mm superam tudo e são mais que suficientes para uma utilização dos tipos XCO e XCM, com uma suspensão frontal RockShox SID SL Brain e um amortecedor RockShox Specialized Brain com cinco pontos de afinação e ajuste do rebound.

A Epic Pro parecia um comboio com uma trajetória bem definida, com os pneus a desempenharem bem o seu papel. 

Toda a rigidez do quadro e estas suspensões topo de gama permitem-nos descer com total controlo em qualquer circunstância, desde singletracks até terrenos mais roladores; aqui a velocidade é maior, mas em qualquer um dos exemplos é sempre possível sentir o Brain a trabalhar.

A subir, as sensações são igualmente boas. Trancam-se as suspensões e seguimos subida acima com uma facilidade soberba, fruto do reduzido peso do conjunto geral (aproximadamente 10 kgs). Aqui não podemos deixar de salientar as magníficas rodas Roval Control em carbono com aros de 25 mm e cubos DT Swiss 350, bastante leves e com uma rigidez excelente.

Por vezes, quando utilizamos rodas em carbono, as descidas muito rápidas e repletas de pedra deixa-nos receosos… Exemplo: aquelas descidas a seguir a Viana do Castelo, no Caminho de Santiago, onde a pedra solta e alguns drops “dificultam” a progressão… Mas nada a assinalar no desempenho da bike, talvez por “culpa” do binómio rodas Roval Control e pneus Fast Track 2.3.

Full SRAM X01 Eagle AXS!

A Epic Pro está equipada com um sistema full SRAM com shifter e desviador X01 Eagle AXS. Um funcionamento com uma precisão exímia e com aquela pequena bateria a fazer milagres: fizemos mais de 400 kms de uma vez só e nem sinal de precisar de carga.

O que tem de mau? Muito pouco ou nada. Talvez apenas alguma vulnerabilidade caso o desviador possa tocar em alguma pedra ou tronco que faça a bateria saltar… Mas tudo numa bike foi pensado para não cairmos ou passarmos por estes imprevistos, não?

Já os travões SRAM Level TLM de dois pistões têm um bom tacto e nunca apresentaram fadiga.

A restante transmissão de 12 velocidades está a cargo de uma cassete XG Eagle 10-50 e de um pedaleiro X1 Carbon Eagle Boost de 32 dentes. A relação é perfeita mesmo para um rider com 81 kg que não esteja no topo da sua forma física. Mesmo nos topos mais íngremes conseguimos avançar com fluidez e sem aquele esforço extra que todos nós conhecemos.

A ‘aventura’ até Compostela

Apesar de termos andado bastante pelo Oeste durante as semanas prévias a nos aventurarmos até Santiago, foram estes caminhos que mais desafiaram a Specialized Epic Pro.

É nestes cenários que encontramos uma panóplia de percursos diferenciados, diferentes condições meteorológicas e até momentos em que pedalamos com a energia no máximo, com o célebre “homem da marreta” já a bater à porta.

Aconteceu até o mais inesperado, pois as condições climatéricas nesse fim de semana foram as mais terríveis em toda a nossa vida de utilizadores de bicicleta e moto! A previsão era de chuva, é verdade, e a temperatura era de 18/19 graus. Até aqui tudo tolerável…

A saída do Porto nunca é fácil devido ao trânsito, mas, felizmente, foi fluida e sem chuva. No entanto, 40 kms antes da chegada a Ponte de Lima caiu um autêntico dilúvio e as temperaturas baixaram para os 12 graus em pleno verão! Sofrimento!

Era impossível aquecer com um simples corta vento, pelo que a chegada a Ponte de Lima foi resumida a encontrarmos o primeiro restaurante e a colocarmos as mãos por baixo do secador da casa de banho para ver se estas ganhavam cor novamente!

A previsão para a restante tarde era de 100% de chuva, o que obrigou a uma dormida inesperada nesta bela cidade e a um final de tarde e noite a secar o equipamento e os sapatos com o secador de cabelo.

Depois foi de cabeça sempre erguida e com foco que saímos de Ponte de Lima pelas 8h da manhã do dia seguinte rumo a Santiago de Compostela, onde chegámos pelas 16h. Foram cerca de 180 kms, com algumas paragens para recolher água, atestar a barriga, fazer umas fotos e conviver ao longo do caminho com os outros peregrinos.

Alguns destaques:

Sistema Brain

Eis o componente do sistema de amortecimento Brain que está instalado junto ao eixo da roda traseira e ao fundo da escora esquerda.

RockShox-Specialized Brain

O amortecedor desenvolvido em conjunto pela RockShox e pela Specialized.

Shifter AXS

Muito pequeno, muito eficaz e sensível a cada pressão do utilizador.

Bateria AXS

Esta é a bateria que faz funcionar o sistema eletrónico no desviador SRAM Eagle X01 AXS.

Pneus Fast Trak

Cumprem com a sua missão sem problemas e com muito grip nos trilhos. Não são roladores por aí além em alcatrão.

A nossa avaliação

Ao longo destes 250 kms foi um privilégio testar esta Epic Pro, diga-se, com total ausência de problemas. E também com duas quedas num dos bosques e na entrada numa naquelas pontes de madeira centenárias em que a madeira já é pouca e o musgo é muito.

Uma combinação muito boa entre um quadro leve e robusta, sistemas de amortecimento eficazes e um nível de equipamento fantástico, em que não podemos ignorar as rodas quase à prova de tudo e o grupo eletrónico topo de gama da SRAM.

Não é “à primeira” que ficamos encantados pelo modo como este modelo se comporta, mas admitimos que ao fim de alguns kms entramos sem problema na facilidade com que a bicicleta consegue fazer tudo, e nos terrenos mais exigentes.

Ou seja, Specialized Epic Pro testada e mais do que aprovada! Só é pena o preço….

Pontos mais positivos

  • Mais uma vez, o sistema Brain na suspensão, desde que consigamos ajustá-lo ao nosso corpo, aos nossos gostos e ao nosso estilo de condução. Não demora muito até chegarmos ao ponto perfeito. A geometria do quatro está em harmonia com esta tecnologia.
  • As rodas, que levaram muita “porrada” durante os nossos testes e nem um risco sofreram, o que é quase um milagre.
  • O sistema de transmissão eletrónico SRAM Eagle X01 AXS, inevitavelmente. Mais uma vez confirmamos que um ligeiro toque no manípulo faz com que as mudanças mudem sem esforço, sem ruído, sem delay, sem problema.
  • A possibilidade de instalar duas grades no quadro e de assim transportar dois bidões de água em simultâneo.

Pontos a melhorar

  • Esta versão não inclui um espigão de selim telescópico, algo que apreciamos particularmente. Isto deve-se ao facto de a marca dirigir a bike à competição de XC. Fica a nota.
  • Às vezes damos connosco a pensar na “delicadeza” de uma bike deste género. Como tudo nos parece quase perfeito, ficamos com receio de riscar o quadro, danificar os componentes da suspensão, rachar uma das rodas, bater com o pedaleiro. Mas será isto um ponto negativo? Não certamente…
  • Sim, uma verdade a que não podemos fugir é o facto de as bicicletas mais bem equipadas custarem uma pequena fortuna tendo em conta o bolso raso dos portugueses, de certa forma e sem querer insultar seja quem for. Paciência, a este nível as bikes são caras…

Todas as fotos:

Galeria de pormenores:

Especificações da Specialized Epic Pro 2021:

  • Quadro: FACT 11m Full Carbon, Modern XC Race Geometry
  • Suspensão: RockShox SID SL Brain
  • Amortecedor: RockShox-Specialized Brain
  • Travões: SRAM Level TLM
  • Desviador: SRAM X01 Eagle AXS
  • Manípulo: SRAM AXS EAGLE Controller
  • Pedaleiro: SRAM X1 carbon Eagle, 32t
  • Cassete: SRAM XG-1295 Eagle, 12x, 10-50t
  • Corrente: SRAX X01 Eagle, 12x
  • Rodas: Roval Control em carbono com aros de 25 mm e cubos DT Swiss 350
  • Pneus: Specialized Fast Trak 2.3
  • Selim: Body Geometry Power Expert
  • Espigão: S-Works FACT Carbon
  • Guiador: S-Works Carbon XC Mini Rise
  • Preço: 9.299 euros

Site oficial:

Neste teste:

  • Texto: Nuno Margaça
  • Fotos e vídeo: Jorge D. Lopes
  • Rider: Nuno Margaça

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