Este é Amaro Antunes e já se tinha saudades de ver o melhor deste ciclista. A exibição na Senhora da Graça trouxe boas recordações de um 2017 espectacular do algarvio, mas que não conseguiu repetir na sua passagem pela CCC, na aventura estrangeira, que incluiu um ano de World Tour. Regressou e não quer fazer por menos, a julgar pela segunda etapa na Volta a Portugal: venceu e vestiu pela primeira vez na carreira a camisola amarela.

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Amaro Antunes já pode dizer que venceu nas duas míticas subidas portuguesas, pois em 2017 havia conquistado a que passou pela Serra da Estrela, numa exibição inesquecível, que levou ainda Raúl Alarcón a praticamente selar a vitória na Volta, com Amaro a ser segundo na geral. E é impossível não recordar como em Fevereiro, na Algarvia, havia vencido no “seu” Alto do Malhão.

Agora, na Volta a Portugal Edição Especial, mesmo com João Rodrigues com o dorsal número um, Amaro mostra mais uma vez como a W52-FC Porto gosta de ter mais do que uma aposta, dificultando o controlo da corrida por parte dos adversários.

Esta táctica não é novidade e tem feito parte do ADN desta equipa que há sete anos vence a Volta a Portugal e já está de amarelo, com 13 segundos sobre Frederico Figueiredo. O ciclista da Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel está mesmo em boa forma, como demonstrou ao vencer o Troféu Joaquim Agostinho. Mas era difícil fazer melhor, com a W52-FC Porto a funcionar muito bem colectivamente.

O triste cenário

Chegar a Mondim de Basto e depois subir a Senhora da Graça foi algo desolador. Nem parecia ser dia de Volta. Contingências do tempo de pandemia que vivemos, é certo, mas era difícil não sentir tristeza por ver a subida sem público (foi cortada para não permitir aglomerados), ao que se juntava a paisagem pintada de negro, resultado do incêndio que este Verão devastou novamente parte do Monte Farinha.

A etapa merecia outro ambiente, mas não é altura para lamentos, pois se os ciclistas também precisam daquele apoio tão especial na Senhora da Graça e em Mondim de Basto, são profissionais que querem ganhar. E quando se ataca a 30 quilómetros e são favoritos que o fazem, é caso para dizer: temos Volta!

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A W52-FC Porto começou por lançar Ricardo Mestre na fuga, mas foi o ataque de Frederico Figueiredo tão longe da meta que acabaria por decidir o vencedor. O ciclista gastou muitas forças, sendo sempre praticamente ele a “puxar”, fosse quem fosse que estivesse com ele. Acabou por ficar com Amaro Antunes na frente. O algarvio manteve-se na roda até cerca de 400 metros da meta. A mudança de velocidade foi avassaladora. É uma forma típica do algarvio correr, ao contrário de Frederico, um ciclista menos “explosivo”, mais de ritmo e que já muitas energias tinha esgotado naquele ponto.

Porém, para o corredor do Tavira foi importante a exibição, pois está na luta por algo que há muito ambiciona, num ano em que queria agarrar a oportunidade de não ter nenhum companheiro a fazer-lhe sombra numa liderança na equipa que já tinha mostrado merecer. Quer dar luta e na quinta-feira, a Serra da Estrela será novo dia para de alta montanha.

Efapel derrotada

Não foi uma boa etapa (167 quilómetros, que começaram em Paredes) para Joni Brandão e para a Efapel. Apesar de ter assumido a perseguição na aproximação à Senhora da Graça e ainda no início da subida, a equipa viu o seu líder perder 1:45 para Amaro Antunes (ficou a 1:20 na geral), com António Carvalho – outra possível opção para a geral – a trabalhar muito, cortando a meta 2:13 depois do vencedor (está a 1:43). Recorde-se que foi ele o vencedor em 2019 nesta chegada. Haverá muito a corrigir na Serra da Estrela, não se podendo esquecer que esta Volta a Portugal é mais curta, com nove dias, em vez de 12.

Com olhos no pódio está João Benta. Excelente prestação do ciclista da Rádio Popular-Boavista, que subiu ao quarto lugar, a 1:17 do líder. É um ciclista muito regular, terminar no top dez é algo natural para ele, mas demonstrou que poderá aspirar a mais. A equipa viu ainda o jovem Hugo Nunes assumir a liderança da montanha.

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A camisola branca da juventude também tem um novo dono: o britânico da Nippo Delko One Provence, Simon Carr. Amaro Antunes acumula a camisola dos pontos, curiosamente “tirou” as duas que tem a colegas: Gustavo Veloso (ex-amarela) e Daniel Mestre (ex-vermelha). A W52-FC Porto mantém-se como primeira entre as equipas.

Classificações completas, via FirstCycling.

 

Acidente grave

A etapa acabou por ficar marcada também por uma má razão. Pouco depois da partida, em Paredes, um choque entre um ciclista e um motard que sinalizava uma zona de perigo, terminou com ambos a serem transportado para o hospital em estado grave. O acidente deu-se numa zona de descida, onde se podem atingir velocidades acima dos 60 quilómetros/hora.

Nigel Ellsay, corredor canadiano (26 anos) da Rally Cycling, sofreu fractura nos ossos da face e na coluna vertebral. Já o motard tem um traumatismo crânio-encefálico.

3ª etapa: Felgueiras – Viseu, 171,9 quilómetros

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Com uma terceira categoria em Lamego e logo de seguida a segunda em Bigorne, os homens rápidos e as suas equipas vão ter de trabalhar para se manter na frente do pelotão. Não é uma etapa tipicamente para sprinters, mas em Portugal já se sabe que é muito normal ter de passar dificuldades para discutir este tipo de chegadas.

Os sprinters portugueses não têm sido felizes em Viseu, quando esta cidade recebe etapas em linha. César Martingil (Atum General-Tavira-Maria Nova Hotel), Rafael Silva (Efapel) e Samuel Caldeira (W52-FC Porto) e sem esquecer João Matias (Aviludo-Louletano) são candidatos. Mas entre as equipas estrangeiras, destaque para Riccardo Minali, da Nippo Delko One Provence, e Daniel McLay, da Arkéa Samsic.

(Texto originalmente publicado no blog Volta ao Ciclismo.)

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